JOGOS DE LUTAS
LUTAS APLICADAS À EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
LUTAS APLICADAS À EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
Essa
oficina pretende tratar das lutas aplicadas na educação física escolar. Na
década de 1980, esse conteúdo era chamado de esportes de combate. Seja qual for
a nomenclatura, as lutas sempre se mostraram muito ricas e competentes em
alcançar alguns objetivos da educação física na escola, como as experiências
motoras, o contato corporal, a elaboração de estratégias de combate, e a troca
de informações entre os alunos. Durante toda nossa carreira de mais de vinte anos
atuando nas escolas, desenvolvemos metodologias que explicaremos mais à frente
que propiciaram a participação empolgante de crianças e adolescentes. Quando os
PCNs indicaram as lutas como um dos conteúdos a ser trabalhados, verificamos
que um item importante não fora esquecido pelos autores.
DIFERENCIANDO LUTAS DE ARTES MARCIAIS
Acreditamos ser de fundamental importância diferenciar lutas de artes marciais. Verificamos que há grande confusão no nosso meio quanto a essa diferença. Mesmo professores com alguma experiência, cometem o engano de achar que luta e arte marcial são a mesma coisa, Na nossa concepção é grande a diferença entre ambas.
Partimos do princípio que
toda arte marcial é uma luta, mas nem toda luta é uma arte marcial.
O termo arte marcial se
refere a técnicas de combate ligadas à guerra. O termo marcial vem do deus
Marte, deus da guerra para os romanos.
As artes marciais mais
conhecidas tanto no Brasil como no mundo são o Judô, o Karatê, o Taekondô, o
Kung-fú, e o Jui-jistú. A Capoeira tem diversas interpretações. Pode ser vista
como dança, folclore, jogo, mas sem dúvida sua maior e mais expressiva
representação é a de luta. Seus movimentos são tipicamente de ataque e defesa.
O boxe embora também seja
uma luta, atualmente tem uma imagem mais ligada a uma prática desportiva.
Com o grande
desenvolvimento das armas de guerra, os combates físicos foram rareando e as
Artes Marciais foram “migrando” para o desporto, perdendo inclusive muitas de
suas características.
O Judô (que significa
caminho da suavidade) não tem praticamente mais nada de suave. O atleta quando
golpeado, em vês de utilizar as técnicas de queda e amortecimento que foram
criadas para diminuir o impacto da queda, tenta de toda forma apoiar uma mão, o
ombro ou outras partes do corpo para descaracterizar o “hipom” que é o nocaute
do judô; daí surgem as graves contusões de clavícula, antebraço, punho entre
outras.
A grande diferença entre
as lutas na escola para as artes marciais seria que não existem técnicas
pré-estabelecidas. Conforme o aluno vai lutando vai desenvolvendo sua própria
técnica. Para atingirmos esse objetivo da criança ser um ser ativo, descobrindo
suas próprias técnicas, se faz necessário que
desvincule as lutas escolares das artes marciais, com exceção da capoeira
a qual trataremos mais adiante.
Outra grande diferença
entre as lutas escolares e as artes marciais é que o resultado do combate não
tem grande relevância; a competitividade deve perder importância em relação às
vivências corporais que também aprofundaremos nos próximos itens. Seria
semelhante a algumas concepções de jogo que diferiam dos esportes, ou seja, um
baixo grau de competitividade.
Mais uma característica
que difere as duas práticas, é que nas atividades escolares os golpes de
percussão devem ser abolidos. Entende-se como golpes de percussão os movimentos
de impacto como os socos e pontapés, por exemplo.
AS LUTAS E A NÃO VIOLÊNCIA
Em nossa experiência
escolar, nunca verificamos sinal de violência nas aulas de lutas.
Para os alunos estava tão
claro que aquele era um momento mais de um jogo de força, habilidades motoras e
inteligência onde cabiam até estratégias complexas para vencer, que o lado
violência com brigas e xingamentos nunca se fizeram presente.
Refletindo sobre esse
fato podemos inclusive imaginar que a violência não está somente em gestos
corporais. Ela pode se apresentar verbalmente ou com gastos sutis como um olhar
de desprezo ou superioridade. Assim a violência é mais uma intenção, um estado
de espírito que pode ou não se apresentar por gestos corporais relacionados com
a motricidade grossa como um soco ou pontapé.
Por mais embate que se
presenciasse, por mais vontade de vencer, por mais força que um aluno
despreendesse para ganhar, nunca verificamos um gesto de violência, desde a educação
infantil até o ensino médio.
Outro aspecto
interessante foi que nossas atividades de lutas nunca foram contestadas por
qualquer diretora ou orientadora. Parece que conseguíamos expressar prazer,
disputa saudável, companheirismo e camaradagem nas mais disputadas contendas.
Nessa oficina estaremos
oferecendo várias formas de lutas escolares onde os participantes além de
apreciarem as “modalidades” oferecidas, serão convidados a sugerir variações
daquelas oferecidas, assim como outras diferentes que já conheçam.
O importante nessa
metodologia é mostrar que os professores devem “abrir espaço” para que os
alunos troquem suas experiências e que percebam que uns podem contribuir para a
construção do conhecimento do outro.
O educador que trabalha
com atividades físicas escolares deve valorizar o conhecimento, a bagagem
cultural que os alunos já trazem de suas vidas extra escolares, mas deve também
interferir no processo, como por exemplo na forma de escolher equipes, manter
em alta a motivação dos alunos entre outras, seja de luta ou qualquer outra
atividade.
A seguir relataremos como
condizíamos essas estratégias quando ministrávamos lutas nas escolas.
.
Estratégias para escolha dos “combatentes”
Como as
lutas duram apenas alguns segundos, elaboramos diversas estratégias para que
houvesse uma diversificação de atuação por parte dos alunos.
Cada um
deles teria que lutar algumas vezes durante as aulas. Assim adotamos algumas
formas de organização afim de manter alta a motivação dos mesmos.
Nas
primeiras lutas da aula, nós é que determinávamos quem lutaria com quem.
Escolhíamos os adversários de forma que o combate fosse o mais equilibrado
possível.
Terminada
a série onde todos já haviam lutado, era a vês dos próprios alunos escolherem
seus adversários.
Nesse momento
verificamos que na maior parte das vezes os alunos escolhiam adversários
compatíveis com suas condições de realizar um combate equilibrado. Quando isso
não ocorria, o próprio grupo “recriminava” aquele que escolhia um adversário
muito fraco. Quando acontecia o contrário, um aluno escolhia um maior e mais
forte que si, o grupo o valorizava como uma pessoa corajosa.
Como já
dissemos, eram comum combates por equipe.
No sumô,
por exemplo, a cada luta vencida por um elemento, somava um ponto para a equipe.
Aquela que somasse mais pontos venceria.
As
equipes eram escolhidas basicamente de duas maneiras; ou um aluno escolhia e a
cada aula era um diferente, geralmente obedecendo a ordem da chamada, ou aquele
que escolhia primeiro se sentava e o escolhido escolhia o próximo, que por sua
vês escolha o seguinte. Essa estratégia é interessante, pois divide a
responsabilidade da escolha por toda a equipe.
Quando na
escolha por ordem de chamada acontecia de um ser muito maior que o outro, era
“prache” estabelecida pelos alunos que o mais forte não deveria escolher outro
muito mais forte. Era interessante perceber como o próprio grupo procurava o
equilíbrio.
Conclusão
Concluindo,
podemos afirmar que em nossa experiência, as lutas nas aulas de Educação
Física, foram muito interessantes, principalmente do ponto de vista
educacional.
Conseguimos
conquistar um clima de disputa saudável, camarada e alegre.
Percebemos
que alunos mais tímidos e retraídos ficaram mais “soltos”. Os mais medrosos e
inseguros, mais valentes. Os mais “esquentados”, mais calmos e auto
controlados. Os mais competitivos, mais éticos.
Por mais
estranho que pareça, atividades de combates, que nos sugerem primeiramente
violência e ânimos acirrados, eram realizadas com a alegria de uma brincadeira
qualquer, mostrando que não há nada de errado, à princípio com qualquer
atividade. Tudo depende do educador, do grupo e de como o processo é conduzido.
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