PLANEJANDO A EDUCAÇÃO FÍSICA
Planejar = pensar sobre as possíveis ações que pretendemos
realizar.
Planejamento de ensino é: “previsão inteligente e bem calculada de
todas as etapas do trabalho escolar que envolve as atividades docentes e
discentes, de modo a tornar o ensino seguro, econômico e eficiente”. (MATTOS, L. A. de, 1968).
Segundo Neira (1999), “planejar é preparar bem a ação,
acompanhando-a para confirmar ou corrigir o decidido, revendo-a e criticando a
preparação feita, depois de tudo terminado”. Segundo o mesmo autor, planejar é
estruturar uma linha de ação de acordo com uma realidade avaliada (evitando
improvisos).
Tipos de planejamento:
1-
Sistema de educação = municipal, estadual e nacional.
Reflete as políticas educacionais de uma nação, com objetivos, finalidades,
metas, etc.
2-
Da Escola = é o projeto ou proposta pedagógica
da escola, seu plano escolar, etc. Varia dependendo do currículo, filosofia,
tipo de avaliação, diretrizes, objetivos, etc. Pode ser influenciado pela
realidade socioeconômico da clientela, da cultura do povo, etc. Deve ser
elaborado em conjunto com o corpo docente, funcionários e se possível, com
alunos, pais, etc.
3-
Do Currículo = fundamentos e conteúdos de cada
disciplina, sistema de avaliação, etc.
4-
De Ensino = documento mais elaborado feito por
um grupo de professores ou individualmente, detalhando objetivos gerais e
específicos, recursos didáticos, avaliação, etc.
5-
De aula = planejando a unidade a ser dada,
com clareza sobre qual o objetivo a ser alcançado, como avaliar a aprendizagem
do aluno, qual recurso será usado de acordo com as características da turma,
etc.
Independente do tipo de planejamento
que pretendemos realizar, responderemos a algumas perguntas que de modo
didático serão separadas, mas que na prática sempre devem estar interligados.
1- PARA QUE VOU ENSINAR?
São os objetivos de ensino. É uma
descrição clara do que se pretende alcançar como resultado final da
aprendizagem. Eles podem ser gerais (alcançados após um longo tempo, podendo
ser por série ou nível de ensino) ou específicos (curto prazo, alcançáveis
pelos alunos até para uma aula apenas).
Quais são as habilidades que pretendo
desenvolver em meus alunos? Ao escrever o planejamento, essas habilidades devem
ser indicadas por um verbo no infinitivo: avaliar,
aprender, arremessar, escrever, etc.
2- O QUE VOU ENSINAR?
São os conteúdos escolares, que podem
ser CONCEITOS (fatos, teorias, conteúdos, ciências, etc.), PROCEDIMENTOS (ações, desempenhos,
habilidades, movimentos, saber-fazer, etc.)
e ATITUDES (valores, ética, cooperação, respeito, etc.).
3- COMO VOU ENSINAR?
De acordo com os objetivos e
conteúdos, devemos escolher o melhor
método ou estratégia de ensino para desenvolver sua aula, que é o caminho que o
professor opta para as situações de ensino-aprendizagem. Envolvem estilos de ensino (descoberta
orientada, solução de problemas, comando, tarefas, etc.) que podem ser mais ou
menos diretivos, etc. Alguns alunos podem preferir um ou outro método e cabe a
cada professor, tentar adaptar sua aula as individualidades de cada um,
aumentando a eficiência do ensino. Ex: aula expositiva, debates, painéis,
pesquisas, seminários, exposições, etc.
Do educador John Dewey: “Quando
um professor diz que têm dez anos de experiência, é preciso saber se realmente
são 10 anos de experiência ou um ano repetidos por dez vezes”.
4- COM QUE VOU ENSINAR?
São os recursos didáticos
(áudio-visuais) que estimulam os alunos para uma melhor aprendizagem. Devem
estimular e motivar o aluno, melhorar a fixação dos conteúdos, etc. Ex: slides,
data show, retroprojetor, bibliotecas, internet, etc. No caso de uma aula de
educação física, os materiais utilizados como bolas, cordas, petecas, banco
sueco, dentre outros, são recursos importantes, pois a criança aprende com mais
facilidade quando possui o “concreto” para manipular.
5- O QUE, COMO E PARA QUE AVALIAR O QUE FOI ENSINADO?
A avaliação é contínua (diária), ou
semanal, mensal, semestral, etc. Serve para verificar se os objetivos propostos
foram cumpridos, dar um “feedback” ao aluno de como está seu processo de
aprendizagem e não deve ter uma função apenas classificatória ou ainda punitiva.
Deve sim dar um diagnóstico e retorno ao aluno de como ele está. Além disso, a
avaliação é muito importante para se refazer o planejamento.
Histórico da avaliação em educação física:
Durantes muitos anos foram usados
testes de aptidão física, como o de verificação de força em flexões de braços,
abdominais, flexão em barra alta, coordenação motora (“burpee”), membros
inferiores (“canguru”), etc. Eram classificados em: fraco, regular, bom e
excelente.
Nada era explicado aos alunos;
simplesmente repetiam os movimentos, e não tinha ligação com nenhum
planejamento anterior ou posterior. Tentavam dar um “ar” científico, com
tabelas e números, numa avaliação puramente quantitativa. Ao final do processo,
a avaliação era apenas classificatória, punitiva aos menos habilidosos e
poderia ajudar o professor a apenas selecionar os mais aptos para a montagem de
seleções da escola, etc.
A aplicação de testes não é errada,
mas deve estar contextualizada a um projeto pedagógico, justificando seu uso.
Só como exemplo, num simples teste de flexão de braços de 1 minuto, pode-se
ensinar anatomia (músculos usados), biomecânica (tipos de apoio e alavancas
utilizadas), fisiologia (porque uns conseguem mais e outros não; o que é força;
porque sentimos dor; etc.), nutrição (alimentos que podem ajudar na aquisição
de força, reposição de nutrientes, etc.); ética (doping, suplementos
alimentares, operações plásticas para aumento da região peitoral de homens e
mulheres, etc.).
A avaliação ideal é aquela que não
avalia apenas um único momento do aprendizado numa prova (aprovando ou
reprovando), mas sim, todo o processo de ensino-aprendizagem ao longo de um
período. É um momento de reflexão do aluno quanto a sua prática em aula, uma
tomada de consciência sobre as suas conquistas, dificuldades e possibilidades. A
auto-avaliação feita pelo aluno também deve estar incluída sempre que possível.
Avaliar é um processo que deve
interessar a todos, mas infelizmente muitas vezes só o professor é o único
interessado: o aluno não sabe o porquê da avaliação, pois acha que é castigo ou
punição, uma vingança do professor pela bagunça e desatenção da turma.
A avaliação pode ser feita por meio
de observações, de testes, provas, relatórios, vivências, etc. Devem constar na
avaliação as dimensões motora (procedimentos), cognitiva (conceitos) e
atitudinal.
A avaliação pode ser feita em algumas
etapas:
- avaliação diagnóstica = numa fase inicial, serve para se
verificar quais são as dificuldades dos alunos, seus conhecimentos anteriores,
etc.
- avaliação formativa = avalia o processo de aprendizagem,
informando aos alunos seus avanços e dificuldades.
- avaliação somativa = ao final do processo educacional,
avalia-se o desempenho alcançado pelo aluno.
A avaliação pode ser feita por meio
de letras (A, B, C, D, E) ou por números (de 1 a 10). Muitas escolas fazem apenas
outro tipo de avaliação: a da “participação”. O aluno é avaliado quanto à
presença em aulas, sua participação nas atividades propostas, seu interesse,
etc.
No caso específico da educação física
escolar, muitas escolas não realizam avaliações formais aos alunos (provas,
notas, etc.). Até por que em muitos estados brasileiros, dependendo da
legislação vigente (segundo Darido, 1999), não existe a reprovação por nota,
mas apenas por freqüência nas aulas. Precisamos avaliar em que séries a
avaliação formal se faz necessária, pois dependendo da faixa etária, a educação
física é uma das matérias mais apreciadas e motivantes para os alunos (principalmente
na educação infantil e fundamental 1).
Mas devemos ser coerentes com nossa
função de educadores: queremos ou não avaliá-los? Se você optar por não
avaliar, QUE NÃO SEJA PELO MOTIVO: “ isso
dará um grande trabalho” e já que a direção da escola não nos cobra esta
função, deixemos para os professores das outras matérias. Isso pode contribuir
ainda mais para o preconceito que ocorre em relação à nossa matéria, de sermos
professores que apenas “fazem atividades”, que brincam e jogam com os alunos,
sem compromisso nenhum.
Texto Ziraldo(1995):
professora muito maluquinha.
“... Então, passou a ter
concurso todas as semanas. Os mais estranhos junto com os mais normais: a
melhor redação, a voz mais grossa, o melhor desenhista, a melhor mão para
plantar flor, o melhor cantor, o mais engraçado, o que tinha melhor memória...
Só agora percebemos que,
primeiro, ela descobria uma qualidade destacável de cada um de nós e aí,
inventava o concurso, segura de quem seria o vencedor. No fim do ano, todo
mundo tinha ganhado uma medalha. O último, parece, ganhou o primeiro lugar em
cuspe a distância” (pg.82).
Texto ABD (Associação Brasileira de
Dislexia, maio de 1996, p.3)
Escola de animais (do tempo em que os animais
falavam...)
Era uma vez uma época em que os animais frequentavam a escola. Eles tinham quatro
matérias: corrida, escalada, voo e natação. E todos os animais precisavam fazer
todas as matérias.
A pata era boa em natação e teve notas para
passar na corrida e no voo, mas estava sem esperanças na escalada. Então, os
mestres a fizeram desistir de nadar a firn de que praticasse mais a escalada.
Em breve, ela se tornou apenas média em natação, e ninguém se preocupou mais
com isso, exceto o pato.
A águia era causadora de problemas. Na aula de
escalada ela vencia todos no alto da árvore, mas tinha seu próprio meio de
chegar, o que era contra as regras. Ela sempre tinha que ficar depois das aulas
e escrever quinhentas vezes "trapacear é errado". Isso a mantinha
longe do voar, que ela amava. Afinal, o trabalho escolar vinha em primeiro
lugar.
O urso foi reprovado porque diziam que era preguiçoso,
especialmente no inverno. Sua melhor época para frequentar a escola era nos
meses do verão, mas a escola não funcionava nesse período por causa das férias.
O pinguim nunca foi à escola porque não podia
sair de casa e não havia possibilidade de se abrir uma escola onde ele morava.
A zebra, por sua vez, gostava de jogar hóquei, mas os póneis debochavam de suas
listras e isso a deixava multo triste.
O canguru era um dos melhores na aula de corrida, mas se desencorajava a
correr nas quatro
patas como os outros animais. Já o peixe abandonou de vez a escola. Para ele, as quatro matérias
eram muito parecidas e ninguém entendia isso. Os outros animais nunca tinham
visto um peixe.
O esquilo conseguiu nota "A" em escalada, mas seu professor de
voo o fez começar tudo de novo, em vez de ficar pulando do
alto da árvore para baixo. Suas pernas ficaram tão doloridas ao praticar o voo,
que ele conseguiu somente nota "C" em escalada e "D" em corrida.
De todos os animais, a abelha foi o que apresentou mais problemas, O
professor a enviou ao Dr. Coruja para que a testasse. O Dr. Coruja disse que as
asas da abelha eram pequenas para voar e, além
disso, elas estariam no lugar errado. Mas a abelha nunca chegou a ver o relatório
do Dr. Coruja. Então, foi em frente e voou assim mesmo.
(Informativo da ABD, São Paulo, Associação Brasileira de Dislexia,
maio de 1996. p. 3.)
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