A PSICOMOTRICIDADE E SUAS IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS







A  PSICOMOTRICIDADE 

E  SUAS

IMPLICAÇÕES 

EDUCACIONAIS



HISTÓRICO  DA  PSICOMOTRICIDADE


Desde o século passado os neurologistas reconheciam que alguns transtornos motores que ocorriam em quadros psiquiátricos não tinham justificativa em lesões cerebrais evidentes. Mas foi o Dr. Ernest Dupré, em 1910 num Congresso em Nantes, que apresentou pela primeira vez um quadro o qual denominou “debilidade motora”, descrevendo-o como :

“... uma condição patológica, congênita, da mobilidade, às vezes hereditária e familial, caracterizada pela exageração dos reflexos tendinosos, uma perturbação do reflexo plantar, das sincinesias, um desajeito dos movimentos voluntários intencionais que levam à impossibilidade de realizar voluntariamente a ação muscular. Eu propus para designar estes últimos distúrbios, o termo paratonia”.(apud  Andrade, 1984, p. 7)

Este mesmo autor diferencia tais distúrbios dos descritos em adultos, considerando-os dentro de um estado de insuficiência, de imperfeição das funções motoras em seu processo de adaptação. Considera alguns aspectos neurológicos importantes acompanhando o quadro, dentre os quais os mais importantes são:

ü  Paratonia  ® impossibilidades de relaxar voluntariamente um músculo.
ü  Sincinesia  ® movimento involuntário que se produz em ocasião de outro movimento voluntário. Considerada patológica se muito intensa, difusa e rápida.
ü  Catalepsia  ® aptidão anormal para a conservação de uma atitude.

A partir daí vários pesquisadores desenvolveram estudos nesta área, a princípio considerando os transtornos psicomotores como um déficit no desenvolvimento funcional, mas faltava uma abordagem genética coerente para discriminar o patológico do fisiológico. Surgiram então, investigações desenvolvidas por Wallon, Ozeretzki, Guilmain, Gesell, Ajuriaguerra e muitos outros.
Muito tempo mais tarde a noção de transtorno motor passou a assumir um outro caráter, o de disfunção, por desorganização da realização motora. Corpo e movimento são vistos como organizando-se em torno de um eixo corporal que serve de referência a toda estruturação espaço-temporal, vinculando-se assim, diretamente ao desenvolvimento da inteligência.
Técnicas reeducativas surgiram, num trabalho instrumental, funcional, para suprirem a “falta”, o “déficit”. Salientam-se aqui os trabalhos de Werner e Strauss em 1939, citados por Andrade (1984), onde consta que já em 1940 estes autores recomendavam a diminuição de estímulos não essenciais no ambiente de aprendizagem de crianças com dificuldade de concentração. Seus trabalhos orientaram todas as pesquisas referentes aos Distúrbios de Aprendizagem e à então denominada DCM (Disfunção Cerebral Mínima), hoje chamada de TDA-H (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade).


Autores como: Cruickshank, Frostig, Vallet, Wender, Illingworth, Léfèvre e Grünspun, entre outros, fazem parte do grupo de pesquisadores que seguem uma abordagem psiconeurológica aos distúrbios psicomotores, de onde se derivaram técnicas visando desenvolver a estruturação espacial, a coordenação viso-motora e as relações lógicas, que logo tiveram aplicabilidade na Pedagogia, em leitura, escrita e cálculo.

Já numa outra linha de pesquisa – numa abordagem psicogenética – encontram-se os trabalhos de Wallon voltados para a compreensão da integração dos fenômenos tônico-emocionais. Ele considera a emoção como uma forma de adaptar-se ao mundo e às pessoas sendo essa adaptação de origem essencialmente postural e seu núcleo é o tono muscular. Este pensamento embasa os trabalhos de autores como Chockler (1988), conforme se observa em sua descrição: “O diálogo tônico nessa relação com o outro é a base de toda comunicação e cria as condições indispensáveis para a emergência do pensamento, a simbolização e a linguagem verbal” (p. 16). A partir daí muitos especialistas em patologia da linguagem verbal adentraram-se ao campo da Psicomotricidade; especialistas em Psicossomática começaram a se referir a estados tensionais como quadros afetivos vinculados à tensão muscular; práticas orientais com teorias sobre o homem e a relação entre o corpo, a mente e a natureza começaram a instalar-se no Ocidente.


Masson (1985) menciona as áreas de : Neuropsiquiatria, Medicina, Pedagogia, Educação Física, Psicologia e Psiquiatria como admitindo em sua evolução que a melhoria física e comportamental pode se dar utilizando técnicas corporais.
Novas formas de abordar os transtornos psicomotores foram aparecendo com trabalhos expressivos desenvolvidos por Quiróz e Schrager, Lapièrre e Aucouturier entre outros citados na obra de Chokler (1988), onde também se encontra o texto abaixo, estabelecido em 1980 pelos docentes do Departamento de Psicomotricidade de Salpêtrière, expressando que :

“enquanto prática terapêutica, a psicomotricidade é neurofisiológica e psicofisiológica em sua técnica; fisiológica e psíquica em seu objetivo; está destinada a atuar por intermédio do corpo sobre as funções mentais, comportamentais e psicológicas perturbadas da criança, do adolescente e do adulto, tendo em conta permanentemente a dimensão relacional” (p. 20).

Surge então uma área de intervenção, a princípio reeducativa e a seguir terapêutica, criando-se os primeiros centros de Reeducação Psicomotora no serviço de Neuropsiquiatria do Hospital Henri Rousselle de Paris sob a direção do Prof. Dr. Júlian de Ajuriaguerra.
Outros centros, serviços e instituições se abriram na Europa e na América.

Em Paris, desde 1950 foi criado o curso de Reeducadores e Terapeutas em Psicomotricidade, com a formação confiada à Faculdade de Medicina de Paris, sob a responsabilidade do Neuropsiquiatra Infantil Prof. Michaux e do Prof. Chailley-Bert. O Prof. Duché foi sucessor do Prof. Michaux, assumindo a diretoria da formação CHU-Pitié-Salpêtrière, Universidade de Paris VI com a diretora adjunta, Dr.ª Suzanne Masson (Masson, 1985).


Em 1975, o Ministério da Saúde da França reconhece a formação de psicomotricistas como profissionais paramédicos, sob a denominação de psico-reeducadores, para as quais se exige que tenham o 2º grau completo e a duração dos estudos é de 3 anos (Masson, 1985). Como formação de pós-graduação, a Universidade de Paris XII outorga um diploma de Terapia Psicomotora depois de mais dois anos de estudo, com a apresentação de uma defesa de tese (Chokler, 1988).

clique aqui e aprendar a prescrever atividades psicomotoras

Temos em Psicomotricidade hoje, portanto, três formas de atuação: educação (EPM), reeducação (RPM) e terapia (TPM). As três abordagens traduzem uma prática psicomotora fundamentada sobre bases neurofisiológicas e psicossociais com objetivos de:

¨      Assegurar uma ótima organização e integração das funções sensório-motoras nas diferentes etapas de seu desenvolvimento;

¨      Manter a integridade das capacidades percepto-motoras do sujeito em interação com o meio;

¨      Detectar precocemente os transtornos psicomotores e sua repercussão na atividade global e na evolução do sujeito;
¨      Resolver ou diminuir os sintomas psicomotores que obstacularizam a evolução das condutas adaptativas;
¨      Ajudar através de técnicas por mediação corporal a um melhor ajuste da personalidade como um todo.



clique aqui e aprendar a prescrever atividades psicomotoras

O QUE  É  PSICOMOTRICIDADE ?


“... esta Psicomotricidade de que tanto se fala permanece mal conhecida, mal delimitada em sua natureza e nas técnicas que decorrem quando a consideramos... não se deixa compreender em sua realidade profunda através de um mero jogo de palavras” (Chazaud, 1976).

Vejamos alguns conceitos sobre o termo:

ü  VAYER ® É a educação da integridade do ser, através de seu corpo.
ü  COSTALLAT ® É a ciência da educação que realiza o enfoque integral do desenvolvimento nos três aspectos: físico, psíquico e intelectual, de maneira a estimular harmoniosamente o casamento destas três áreas em diferentes etapas do crescimento.
ü  AJURIAGUERRA ® É a realização do pensamento através do ato motor preciso, econômico e harmonioso.

Esquematicamente seria:

PSICO                      +          MOTRICIDADE

 

                         í                  î                                         ê

 

                      PENSAR                      SENTIR                          FAZER

 

                           ê                                 ê                                 ê        

              COGNITIVO                        EMOCIONAL               MOTOR  è  PESSOAL

                 (saber)                      (querer)                     (poder)



                                            SOCIAL è família                     èAMBIENTAL
                                                                          î   escola


Encontramos uma explicação mais completa em Roth e Joeggi (apud Chazaud, 1976, p. 14), para os quais a Psicomotricidade é:

“uma técnica que pelo exercício do corpo e do movimento se dirige a um ser em sua totalidade. Ela não visa a reeducação funcional por setores e menos ainda uma supervalorização do músculo, mas a fluidez do corpo no ambiente. Seu objetivo é permitir um ‘sentir-se’ melhor e, desse modo, por um melhor investimento da corporalidade, situar-se no espaço, no tempo, no mundo dos objetos, e atingir um remanejamento e uma harmonização de seus modos de relação com outrem.”
Vayer (1986) sintetiza a importância do corpo no desenvolvimento global do indivíduo, conforme demonstrado no esquema abaixo:                     

                      com  o  mundo  dos                  è        desenvolvimento da
                                objetos                                                   inteligência
                                    ì
   corpo como
instrumento  de 
      relação
                             î
                      com  o  mundo  dos              è            estruturação  do
                                                     outros                                                  emocional


Esta unidade funcional – motricidade/psiquismo – é sempre reconhecida em todas as situações da realidade de vida de uma pessoa. Diante de dificuldades na aquisição de certos conhecimentos, de certas aprendizagens, há sempre concomitantes dificuldades na relação consigo mesma.
Uma criança passa por uma trajetória de múltiplas experiências no contato com os seres e os objetos para que atinja um estado ideal de relação com o mundo. Inicia uma fase egocêntrica onde o “eu” é o todo, identificando-se com os objetos que seriam como um prolongamento desse “eu” (conduta sensório-motora). Mais tarde essa conduta manipulatória dá lugar a um comportamento dinâmico onde as impressões cinestésicas dão a esse “eu” um destaque do contexto espacial (diferença entre ele e o mundo exterior). A criança vai percebendo o seu corpo como o centro, o ponto de referência para a ação e reação ao ambiente que a cerca (imagem corporal); vai formando uma representação interiorizada das ações e estruturando o pensamento que será, por fim, o controlador das ações. Então, as impressões cinestésicas levando a uma consciência de si, e a dinâmica corporal a uma representação interiorizada, compõem um círculo de inteligência e motricidade em ativa e recíproca ação.
Todas as experiências da criança (o prazer e a dor, o sucesso e o fracasso) são sempre vividas corporalmente e Fonseca (1981) salienta a importância do aspecto emocional ser sempre considerado em um processo terapêutico para não se correr o risco de pretender “reeducar qualquer coisa” e não “reeducar uma pessoa”. Segundo ele, para além das técnicas está o ser humano.



clique aqui e aprendar a prescrever atividades psicomotoras


CONTRIBUIÇÕES DA BIOLOGIA E DA ANTROPOLOGIA

Filogênese

Ontogênese

Estádio do Desenvolvimento Humano

peixe
réptil

feto
recém-nascido
 
NEUROMOTRICIDADE
(protomotricidade)
hipotonia axial
hipertonia das extremidades
reptação ventral


mamífero

10  meses
 
TÔNICO-MOTRICIDADE
(paleomotricidade)
quadrupedia
simetria funcional
bimanualidade


primata

12-24  meses

SENSÓRIO-MOTRICIDADE
(arquimotricidade)
controle postural
segurança gravitacional
lateralização funcional
independência do polegar


Homem

6  anos

PERCEPTIVO-MOTRICIDADE
desenvolvimento da locomoção
dextralidade
assimetria funcional
especialização hemisférica
somatognosia


adolescência

PSICOMOTRICIDADE
(neomotricidade)
desenvolvimento práxico
melodia cinética
planificação motora
maturidade sócio-motora


                                            Quadro I
                                           (extraído  de  Fonseca, 1988, p. 12.)

O desenvolvimento da criança não pode ficar separado do estudo antropológico do ser humano como totalidade biopsicossocial (analisar quadro I).

Alguns conceitos fundamentais para uma reflexão nestes termos são:
Seres vivos ® são organismos compostos de órgãos, compreendendo uma organização que não é mais do que uma adaptação às condutas do meio exterior.

Organismo ® subentende um corpo que vive em permanente troca energética com o meio, ou seja, transforma-o para criar condições indispensáveis à sua atividade. Há nos seres vivos, portanto, a necessidade de uma permanente adaptação ao meio exterior, a qual resulta de processos de assimilação e acomodação que concretizam biologicamente a dialética organismo-meio.

Em termos de evolução, a motricidade é uma condição de adaptação vital (nutrição) e o alicerce comum e original de onde emergiu a filogênese e a ontogênese cerebral, conforme aponta Fonseca (1988) no quadro abaixo:

Motricidade

ê
Postura Ereta
Marcha Bípede
ê
Libertação da mão
Especialização do pé (para sustentação)
ê
Curvaturas na coluna vertebral
Alargamento da bacia
Achatamento do tórax
ê
Redução do prognatismo
Diminuição dos caninos
ê
Expansão do crânio cerebral
ê
Inteligência
Inteligência
ê
Hipertrofia cerebral
ê
Expansão das áreas associativas
ê
Reflexão da ação
ê
Representação sensorial do real
ê
Pensamento sequencial e lógico
ê
Generalização
ê
Herança social
Aprendizagem
ê
Fabricação
Trabalho

                                                î                                            í

Da  ação  à  consciência

Do  biológico  ao  social






clique aqui e aprendar a prescrever atividades psicomotoras


ORGANIZAÇÃO  DOS  PADRÕES  NEUROMOTORES NORMAIS  DO  DESENVOLVIMENTO


Conhecer o desenvolvimento neuromotor normal é a base para se identificar a anormalidade.
Os padrões de movimento do bebê vão se organizando por etapas que devem ser consideradas para se diferenciar um desajuste fisiológico do desajuste patológico. Essa organização progressiva se dá nos sentidos céfalo-caudal e próximo-distal (Gesell e Amatruda, 1990):

ü  Cabeça
ü  Olhos
ü  Boca
ü  Braços e mãos :
-         preensão
-         agarrar
-         soltar
ü  Troncos, pernas e pés :
-         sentar
-         engatinhar
-         ficar de pé
-         andar
ü  Esfíncteres
ü  Ouvidos e laringe
-         Linguagem
ü  As predisposições da atenção.

Para Gesell e Amatruda (1990) a atenção é a expressão integrada da disposição psicomotora.


BEBÊ:
O ser humano é, dentre os animais, o que nasce mais despreparado para enfrentar a realidade a partir do nascimento.
O bebê transfere-se da escuridão para um meio iluminado, colorido. Muda de posições limitadas para um meio em que a locomoção e a direção são indispensáveis. Muda de uma situação que lhe proporciona equilíbrio, segurança, para um mundo que terá que ser conquistado para sobreviver.

MÃE:
A mãe (ou substituta) é quem provê o bebê das coisas que ele necessita, trocando suas roupas, alimentando-o, protegendo-o do frio e de outras alterações ambientais. Esses primeiros relacionamentos servirão de base para os futuros contatos da criança com todo o restante do mundo.
A princípio, o nenê e a mãe são para ele a mesma pessoa (díade mãe/filho); ele não sabe onde termina o seu corpo e começa o dela. Fica estabelecida uma comunicação entre estes dois seres, a qual Wallon denominou de diálogo tônico e que determina de forma intensa a qualidade no relacionamento psicológico entre ambos.

DESENVOLVIMENTO:
Com o passar dos meses e com o desenvolvimento neuropsicomotor, a criança vai se diferenciando da mãe, percebendo seus próprios limites e possibilidades corporais, sua motricidade própria, suas sensações e percepções, etc.
Até atingir uma boa coordenação motora para um comportamento independente, a criança conta com a maturação do sistema nervoso central (auxiliada pelos sentidos principalmente do tato, da visão e cinestésico) e com a possibilidade da experiência, da interação, ou seja, de um ambiente que permita a expressão desse processo de evolução.

PSICOMOTRICIDADE:
Através da motricidade o bebê vai explorando o ambiente podendo desenvolver capacidades intelectuais e manifestar suas emoções. O corpo adquire o papel de fonte de conhecimento e de expressão da afetividade; torna-se o centro, o ponto de referência para a ação e a reação da criança ao ambiente que a cerca; esta vai formando uma representação interiorizada das ações e estruturando o pensamento que será, por fim, o controlador das ações.
O resultado dessa interação é a “Imagem de Si” que a criança constrói a partir do feedback de suas experiências com o mundo e o adulto é o grande facilitador desse processo.


DESENVOLVIMENTO  PSICOMOTOR:
Ao se estudar desenvolvimento infantil é preciso ter sempre em mente que:

a)      O desenvolvimento é contínuo ® a criança se desenvolve de maneira contínua desde os primeiros dias de vida; as etapas são apenas pontos de referência para facilitar a descrição.

b)      O desenvolvimento é global ® os diferentes aspectos do desenvolvimento da criança estão ligados, não podendo ser estudados separadamente.

c)      Cada criança é única dentro de um esquema de desenvolvimento comum.

Segundo Costallat (1985), a evolução de um modo geral se dá  :
ü  Do estado hipertônico do bebê ao gesto preciso do adolescente.
ü  Do movimento difuso e geral ao movimento analítico.
ü  Do movimento espontâneo ao movimento consciente.


BEBÊ

§  Movimentos associados
§  Mãos fortemente fechadas
§  Cabeça bamboleante
§  Olhar vago

ATÉ  6  MESES

§   1 - domínio da cabeça ® permitindo a fixação do olhar (coordenação do sistema motor-ocular) ® desenvolvimento progressivo da atenção (dispositivo psicomotor importantíssimo na evolução de qualquer tipo de aprendizagem).
§   2 - maturação da musculatura dos braços.
§   1 + 2 - vão permitir as primeiras tentativas de preensão.
§  3 – balbucios.

DE  6  MESES  A  9  MESES

§  Postura sentada e começo do engatinhar (8/ 9 meses) ® ampliação do campo visual.
§  Aproximação e manipulação de objetos que atraiam a atenção.
§  Aproximação bi-unimanual  =  transferir um objeto de uma mão para outra.
§  Passa de preensão palmar à rádio-palmar.
§  Compreensão da linguagem.

DE  9  MESES  A  1  ANO

§  Preensão  dígito-palmar e em pinça  =  aperfeiçoamento do dedo indicador.
§  Posição em pé (9 m) à  marcha (12 m)  =  bom desenvolvimento das vias cerebelares.

DE  1  ANO  A  2  ANOS

§  1 - aperfeiçoamento da marcha.
§  2 - percepção visual e cinestésica vão integrando à memória motora as inúmeras experiências diárias.
§  3 - atenção seletiva.
§  4 - desenvolvimento da linguagem.
§  1 + 2 + 3 + 4 =  maior e melhor integração sócio-familiar, conduta mais harmoniosa e independente ® desenvolvimento bem coordenado das funções neuropsicomotoras.
§  5 - pegar e soltar objetos sem dificuldades.
§  6 - formar torres com 2 ou 3 cubos.

DE  2  ANOS  A  3  ANOS
§  Mecanização de movimentos aprendidos: marcha e exercitação manual.
§  Articulação de palavras e frases; uso do “não”.
§  Inibição para controle de esfíncteres.
§  Movimentos associados persistem, assim como sincinesias manuais e digitais.
§  Imprecisão geral de movimentos (não é incoordenação).
§  Construção de torres com 6 cubos (coordenação óculo-motora).
§  Correr, pular, trepar.
§  Socialização: brincam ao lado de outras crianças, mas não com elas (jogos em paralelo).

DE   3  ANOS  A  4  ANOS
§  Diminuição gradativa da imprecisão geral (= controle progressivo do freio inibitório).
§  Movimentos dissociados vão se acentuando.
§  Aperfeiçoamento da coordenação motor-ocular.
§  Preensão “correta”.
§  Desenho: imita cruz e desenha um boneco rudimentar.
§  Arma torre de 10 objetos ® equivale a:
a)      Coordenação viso-motora
b)      Aquisição progressiva das relações especiais
c)      Adequação do freio inibitório à destreza manual
a)      +  b)  +  c)  =  equilíbrio do movimento delicado.
§  Maneja colher, calça sapato e veste-se sem destreza (pois esta é conseguida pela repetição diária).
§  Socialização facilitada pela linguagem.

DE  4  ANOS  A  6  ANOS - Período pré-escolar :

§  Maturação intelectual e motora.
§  Movimentos simultâneos das mãos ® gestos mais precisos.
§  Desenvolvimento da atividade motriz voluntária.
§  Progressão da coordenação motor-ocular.
§  Aprendizagem do manejo de tesouras.
§  A.V.D.s
§  Ainda não há dissociação digital precisa e quando isso é cobrado em atividades do jardim da infância a criança cumpre com grande esforço, imprecisão e fadiga imediata.
§  No período inicial de aprendizagem (4/ 5 anos) observa-se uma lentidão nos movimentos, como um meio de controle voluntário dos movimentos impulsivos. Para conseguir precisão e fixação do movimento na memória motriz é necessário movimentação lenta, evitando o desgaste da força muscular. Se isso não for respeitado, as sincinesias que haviam se acentuado, reaparecem com intensidade como conseqüência do esforço exigido.

OBS:
1 - lentidão motora constitui uma incapacidade da memória motriz para fixar a ordem encadeada de uma série de movimentos, resultando que cada ato se execute sempre como nas etapas de aprendizagem.
2 – impulsividade ®  adequação incorreta dos movimentos, não regulados a tempo pelo controle voluntário, resultando em comportamento carente de precisão.
3 – na criança Deficiente Mental  há maior persistência dos movimentos lentos. Entretanto, com exercitação intensiva e metodizada, alcança a etapa de normalização. A lentidão ainda existirá, mas só para atividade nova.

DE  6  ANOS  A  7  ANOS
§  Pequeno ser independente.
§  Dissociações manuais e digitais já afirmadas.
§  Ato preensor correto.
§  Atenção.
§  Acomodação postural.
§  Manejo simultâneo e correto do lápis e do caderno.

OBS: Sincinesias pronunciadas e/ou pressões excessivas do lápis levam a problemas no ato motor da escrita (letra ilegível).
A escrita representa para a criança de 6 anos, um trabalho intenso, no qual complexos mecanismos psicomotores que entram em jogo, incluindo os novos movimentos do manejo do lápis e a reprodução das formas dos sinais – ambas tarefas do tipo visomotor – se combinam com a fixação de conhecimento do significado das sílabas, letras ou palavras que põem em jogo, basicamente, as capacidades de atenção e memória. O desenvolvimento harmônico desses mecanismos pressupõe um desenvolvimento bem integrado da coordenação motor-ocular, da dinâmica manual e da atenção estabilizada em um nível suficiente para poder fixar e sustentar a aprendizagem. Isto implica em um bom desenvolvimento intelectual e psicomotor, que permite realizar aquisições tão complicadas, com naturalidade.
Para que se consiga, portanto, um movimento preciso e correto é imprescindível a lentidão inicial e a ausência de esforço físico.

DE  7  ANOS  A  10  ANOS
§  Afirmação da precisão já adquirida.
§  Freio inibitório atua adequadamente para regular gestos.
§  O ritmo da escrita acelera-se progressivamente.
§  Aumento do potencial de rapidez (devido a repetições freqüentes).
§  Dissociações digitais se afirmam (= pequenos movimentos de grande precisão, com desenvoltura).
§  Acuidade perceptiva favorece atividades finais de coordenação óculo-motora: recortar, calcar figura com papel transparente, usar papel carbono, pondo em jogo a correta dissociação manual.
§  Movimentos digitais finos: traçar, manejar o pincel, recortes complexos.

DE  10  ANOS  A  14  ANOS
§  Energia física crescente ® movimento preciso e rápido.
§  Dissociações manuais e digitais bem firmadas.
§  Integração dos 3 fatores que marcam as qualidades dos movimentos no indivíduo normal :
1º - Precisão
2º - Rapidez
3º - Força Muscular



clique aqui e aprendar a prescrever atividades psicomotoras

OBS: Em relação ao deficiente mental, Costallat (1985) salienta:
1.      Nunca alcança a etapa de mecanização rápida da escrita devido a uma voluntária inibição exercida para evitar erros.
2.      Aos 7 anos de idade motriz existe um período intermediário: dissociação digital, movimentos delicados, ainda não estão dominados por completo; há dificuldade para estabelecer mecanização do movimento.
3.      Deve-se dar-lhes exercícios corretivos diários para que atinjam ao menos o estágio da precisão ( 7 anos de idade motriz).
4.      O D. M. que alcança 10 anos de idade motriz pode ser introduzido em programas de aprendizagens progressivas em atividades especiais que não exijam grande esforço físico, como por exemplo, a carpintaria, que envolve movimentos amplos e precisão aperfeiçoada.
5.      Há dificuldade em realizar uma tarefa perfeita por si só. Pode ser responsável por uma parte da tarefa, mas precisa de supervisão.


ESQUEMA  CORPORAL

Conceitos de alguns autores:

ü  Vayer

“O esquema corporal é uma noção, quer dizer, um conhecimento intuitivo e sintético de nosso corpo, abrigando a presença do mundo, essa que se expressa nas diferentes ações e nas diferentes comunicações” (1986, p. 90).

ü  Le Boulch

“O esquema corporal ou imagem do corpo pode ser considerado como uma intuição de conjunto ou um conhecimento imediato que temos do nosso corpo em posição estática ou em movimento, na relação de suas diferentes partes entre si e sobretudo nas relações com o espaço e os objetos que o circundam” (1983, p. 37).

ü  Wallon

“Não se trata de um dado inicial nem de uma entidade biológica ou física. É o resultado e a condição para relações adequadas entre o indivíduo e seu meio” (apud Le Boulch, 1983, p. 37).

A noção de esquema corporal, reunindo as considerações de vários autores, pode ser entendida como a imagem mental do corpo registrada ao nível cerebral em função da integração entre o conjunto de dados proprioceptivos, as percepções e intenções motoras. Essa resultante representa o ajustamento, a precisão e a eficiência das condutas humanas.

Como aparece esse conceito?

“Ainda antes de ter consciência de seu corpo, a criança já atua com ele”.
(Ajuriaguerra apud Costallat, 1984).

A vida de relação, segundo Costallat (1984) se inicia desde os primeiros momentos pós-natais:

ð Amamentação: primeiras organizações praxo-gnósticas.
ð Totalidade corpo próprio / corpo mãe.
ð Rosto da mãe: 1ª gestalt perceptiva (objeto significante e permanente).
ð Ternuras e carícias: primeiras cinestesias perceptivas através das sensações passadas pela pele, de “fora” para “dentro”. Dentro e Fora  são dois espaços que nesta tenra idade se unificam integrando a totalidade do ser.

Para Ajuriaguerra (apud Costallat, 1984), a dualidade mãe-filho tem caráter decisivo no futuro emocional e no desenvolvimento orgânico da criança.

ü  prazer / desprazer – tensão / relaxamento ® ainda sem consciência do eu corporal.
ü  noção de corporalidade ® começa provavelmente quando a criança visualiza suas mãos e pés.
ü  coordenação de braços e mãos através de movimentos ( 4 meses).
ü  motricidade do tronco ® intencionalidade gradativa.
ü  movimentos das pernas e pés.
ü  corpo se projeta no espaço circundante por meio do movimento. Consciência progressiva de sua existência individual como distinta das demais com um corpo sensível e atuante: seu “eu corporal”.
ü  EU ® vive como o centro de projeções dinâmicas no relacionamento com os objetos circundantes ao mesmo tempo que vivencia o retorno, as impressões dessa projeção e desse contato. Esse complexo senso perceptivo o leva a perceber sua unidade corporal.
ü  desenvolvimento do esquema do corpo se realiza paralelamente ao desenvolvimento sensório-motor.
ü  a construção da imagem corporal se dá como qualquer outra imagem mental, dependendo da evolução do pensamento. O pensamento traduz as informações em uma série de dados com os quais estrutura o esquema corporal (mensuração dessa integração – Goodnough).
ü  os primeiros sinais de discriminação do corpo aparecem depois do 2º ano de vida.
ü  aos  3  anos a criança normal pode indicar e nomear com facilidade as partes do corpo dela mesma ou de um boneco: cabeça, cabelo, olhos, boca, barriga, braços, mãos, dedos, pernas, pés.
ü  aos  5  anos nomeia e mostra 20 partes do próprio corpo e dos outros. Só nesta idade a criança alcança a plena consciência de que o outro ser possui exatamente as mesmas partes corporais que ele.
ü  dos  4  aos  6  anos ® progressiva socialização do pensamento – a imagem se percebe como uma força humana.
ü  nível verbal do conhecimento das partes do corpo está ligado ao nível cultural familiar.
ü  a reprodução gráfica da figura humana é a expressão de uma representação mental e não a tradução de uma percepção direta.

Costallat (1984) segue com a explicação de Wallon sobre a trajetória da expressão gráfica da criança:
Þ simples consciência do gesto que traça sobre uma superfície.
Þ prazer da exercitação motriz transformando-se em desenho.
Þ 3 anos ® circunscreve a imagem da pessoa em um óvulo fechado. Fecha-se como que se distinguisse ou opusesse ao outro.
Þ 3 a 5/ 6 anos ® desenvolvimento da imagem de seu próprio “EU”, pelo narcisismo e a imitação. Vê-se isso no agregamento peça a peça às partes de seu desenho de pessoa, mantendo-se por longo tempo mal ajustadas.
Þ articulação correta (resultado totalizador) não se obtém antes dos 5 ou 6 anos.

Essa evolução se traduz num enriquecimento progressivo a partir do momento de sua aparição com o acúmulo de novos dados que seguem com fidelidade genética, a ordem estrutural.
A imagem de si cresce e se aperfeiçoa paralelamente ao corpo.
As qualidades têmporo-espaciais e a experiência contribuíram também à integração da consciência da realidade objetiva da própria corporalidade, para confrontá-la com as experiências subjetivas do interior do próprio corpo.
O esquema corporal aparece, desse modo, como uma entidade psicofisiológica indissociável, na qual se conjugam não só a síntese das sensações atuais, sempre presentes, senão toda a conseqüência da atividade passada, vivida e experimentada.

Qual a importância desse estudo para o enfoque educativo?

Ø  Toda ação é uma expressão motora que necessita de um controle mental para desenvolver-se.
Ø  Esse controle ocorre mediante representação mental da ação que se efetiva em nível cortical.
Ø  Essa representação elege a parte do corpo que deve atuar e sustém o pensamento volitivo que impulsiona o movimento.
Ø  Cria-se um circuito de imagem e ação e vice-versa que dará a precisão da dinâmica corporal.
Ø  A dinâmica corporal com representação interiorizada do próprio corpo e a identificação com os demais = trama intrincada.
Ø  Educação Psicomotora (E.P.M.) =  educação do ser em sua totalidade e através do corpo, procurando a tomada de consciência de seu “EU”, centro dos processos de desenvolvimento.
Ø  Estando implicados o psiquismo e a motricidade, há necessidade de uma metodologia para compreender os dois desenvolvimentos e suas múltiplas relações.

Le Boulch (1983) propõe para o educador, a distinção de três etapas na evolução do esquema corporal, que ajudam na adaptação dos exercícios às devidas necessidades dos alunos:

a)      A etapa do “corpo vivido” (até os 3 anos) ® o comportamento motor é global e a criança age por  “ensaio e erro”; há certo domínio global da totalidade do corpo, mas dissociação mal elaborada dos movimentos. A imitação do adulto desempenha um papel importante nesta fase.

b)      A etapa de “discriminação perceptiva” (de 3 a 7 anos) ® percepção do próprio corpo (interiorização) e percepção dos dados exteriores (espaço e tempo). A associação da verbalização e da percepção deverá ser abordada neste estágio. A criança pode adotar atitudes por imitação ou por ordem verbal, mas provavelmente não conserve a atitude de forma durável, em conseqüência de um tônus muscular ainda insuficientemente desenvolvido.

c)      A etapa do “corpo representado” (de 7 a 12 anos) ® corresponde, no plano intelectual, ao estágio de “operações concretas” de Piaget.


COORDENAÇÃO  PSICOMOTORA

Segundo Magill (apud Negrine, 1987, p. 14) “o controle do movimento envolve um sistema altamente complexo, pois implica a recepção sensorial da informação do ambiente, a transmissão eferente da informação relativa ao movimento a ser produzido e a integração da informação sensorial e motora a fim de produzir movimento coordenado. Toda informação sensorial envolvida provém de uma variedade de fontes. A transmissão eferente da informação do movimento do córtex para a musculatura se dá através dos sistemas piramidal e extrapiramidal, e o início e o controle do movimento parecem estar centrados no córtex cerebral e no cerebelo, em um sistema interligado e complexo de controle”.

Numa abordagem neurofuncional, coordenação motora é a união de movimentos harmônicos, que supõe a integridade e a maturação do Sistema Nervoso (Defontaine, 1980).

Autores ligados à área biomédica preferem o termo “praxia” para designar um conjunto de movimentos coordenados em função de um resultado a atingir ou de um fim (intenção) a conseguir. Não se tratam de movimentos reflexos ou somáticos, mas sim, movimentos coordenados numa seqüência espaço-temporal com determinada intenção. Envolve, portanto: imagem mental, representação simbólica, planejamento da ação, para que o movimento seja efetuado da melhor forma possível.

Para Negrine (1987) a coordenação psicomotora estrutura-se em função da maturidade neurológica progressiva, onde os órgãos sensoriais desempenham um papel importante (com informações trazidas do meio exterior), estando ligada à experiência corporal vivida pelo indivíduo. Em outras palavras, o funcional não pode ser considerado independente do relacional.

Este mesmo autor salienta o papel importante do ambiente na construção que a criança vai fazendo das aprendizagens motoras, afirmando que a incoordenação para determinados movimentos implica na carência de impressões corporais retiradas da experiência vivida.




EQUILÍBRIO

O equilíbrio é adquirido por maturidade neurológica.

Posição bípede = forma mais elementar de equilíbrio, mantida inicialmente com apoio das mãos e a seguir, sem este.

Da posição estática, a criança passa ao ato dinâmico, isto é, desloca-se de um ponto ao outro.

 Caminhar = forma mais rudimentar de equilíbrio dinâmico, também valendo-se do apoio das mãos nos ensaios dos primeiros passos.

Engatinhar = fase anterior à postura bípede, importantíssima para a aquisição de equilíbrio.
     “A criança que é estimulada a engatinhar, no período de movimentação rasteira, vivencia uma gama de impressões corporais importantes para o seu desenvolvimento psicológico, além de fortalecer os músculos abdominais e dorsais responsáveis, em última análise, pela manutenção da posição bípede”.
(Negrine, 1987, p. 64)

Por que “NÃO”  ao  andador ?
O equilíbrio corporal não é um simples ato mecânico, mas todo um processo de reforço psíquico, que envolve uma participação intelectual ativa do indivíduo.

Papel dos pais (ambiente):
Devem reforçar o que a criança realizar por suas próprias forças porque estas realizações têm implicações positivas na estruturação da auto-imagem e auto-estima, que refletirão no seu comportamento futuro.

Centro de gravidade:
Ponto de aplicação da resultante das forças que a gravidade exerce sobre as diversas partes de um corpo; o ponto no qual se concentra o peso do corpo. Segundo Holle (1979), quanto mais a criança cresce, mais alto é o seu centro de gravidade em relação à área de apoio e o equilíbrio torna-se mais difícil.

Para Fraccaroli (apud Negrine, 1987), o equilíbrio está condicionado a diversos fatores como:

a)      base de sustentação.
b)      peso ® quanto mais pesado o corpo, mais difícil torna-se desequilibrá-lo, pois o centro de gravidade está mais baixo.
c)      altura do centro de gravidade ® quanto mais alto do solo, mais fácil o desequilíbrio.
d)      projeção da vertical da gravidade ® deve cair no centro da base de sustentação, para maior estabilidade. Ex: velho – bengala  =  trabalha com uma mão, apoio no pé contrário. O equilíbrio fica assegurado por um ajuste cruzado e diagonal das forças.

Aspectos  Anátomo-funcionais  do  Equilíbrio

O equilíbrio baseia-se na proprioceptividade (sensibilidade profunda), na função vestibular e na visão, sendo o cerebelo o principal coordenador de toda essa informação.

ü  Sensações visuais ® ajudam a orientar o corpo no espaço e indica onde o pé pode ser colocado com segurança, para obtenção do equilíbrio.
ü  Sensações labirínticas ® a partir do labirinto originam-se reflexos que influenciam parcialmente o tônus muscular e os reflexos posturais de todo o corpo; servem para orientar os movimentos da cabeça registrando alterações na direção e na velocidade.
ü  Sensações cinestésicas ® registram a posição relativa das partes do corpo.
ü  Sensações plantares ® referem-se ao contato dos pés com o solo, influenciando a erguida do corpo através de determinados reflexos posturais.

Aspectos importantes a serem observados:

¨      A presença da visão constitui um fator facilitador em qualquer exercício de equilíbrio.
¨      A área de apoio do corpo determina o grau de dificuldade do exercício (obs: a anatomia do pé influencia bastante nisso).
¨      Esse controle postural desenvolve-se, organiza-se e estrutura-se através da ação vivida.

O equilíbrio pode ser vivenciado de duas maneiras:

a)      De forma estática (sem movimento) ® capacidade de manter certa postura sobre uma base.
b)      De forma dinâmica (com movimento) ® conseguido com o corpo em movimento determinando sucessivas alterações de base de sustentação.

Situações a serem consideradas:

1.      Equilíbrio do corpo:
·        na posição estática  =  tentativa de manter determinadas posturas quando é diminuída a base de sustentação.
·        na posição dinâmica  =  com a base de sustentação também diminuída, evitação de queda, mantendo a harmonia dos movimentos corporais necessários para cada gesto motor.

2.      Equilíbrio de objetos sobre determinadas partes do corpo:
·        esta atividade relaciona-se mais com o desenvolvimento de habilidades do que com o equilíbrio propriamente dito, pois o que se equilibra é o objeto e não o corpo.

3.      Equilíbrio do corpo sobre objetos imóveis ou móveis:
·        contribui para um melhor controle do corpo.

TÔNUS


“A atividade fundamental, primitiva e permanente do músculo é a atividade tônica que constitui o pano de fundo das atividades motoras e posturais, fixando a atitude, preparando o movimento, subentendendo  o gesto, mantendo a estática e o equilíbrio”.
(Mamo e Laget apud Chockler, 1988, p. 11)

A palavra tônus vem do grego “tonos” que significa “tensão” e apesar de ser utilizada por  muito tempo de forma puramente fisiológica (tensão de um músculo), tem hoje, em Psicomotricidade, um valor muito significativo no plano fisiológico devido a sua relevância na regulação das atividades em geral ( relação indivíduo / meio).

Encontramos em Costallat (1984) um enfoque sobre a importância da atividade tônica no processo educativo, considerando que o tônus fisiológico normal permite :
·        a ereção e manutenção da cabeça, e com ela, a conseqüente maturação do sistema óculo-motor;
·        a aparição e permanência da posição sentada;
·        a aquisição do equilíbrio estático, índice maturativo neurocerebeloso, que com a posição de pé, precede a marcha;
·        equilíbrio cinético (ou dinâmico) que permitirá aprendizagens posteriores da coordenação global : corrida e salto.

Desta forma, a aquisição e manutenção de posturas corretas vão progressivamente permitir toda uma seqüência de atividades corporais ajustadas conforme observa-se na atividade grafomotora. É fundamental no processo de escrita da criança (do ponto de vista psicomotor), que esta adote uma postura correta conseguindo mantê-la ou acomodando-a conforme entrem em jogo os mecanismos visomotores e a coordenação bimanual. Problemas grafomotores ligados à postura podem originar disgrafias.
Ao contrário de um estudo anterior puramente fisiológico, hoje em dia a tonicidade tem sido compreendida num conceito maior de  RELAÇÃO, sendo o músculo analisado simultaneamente como uma estrutura de execução (neurofisiológica) e de recepção, que lhe dá subsídio para fazer elo com a afetividade conforme demonstram trabalhos de Wallon, Reich e outros.
O tono muscular normal tem uma regulação extremamente complexa. Os mecanismos de sua manutenção e equilibração não podem ser atribuídos a nenhuma região particular do neuroeixo. A  Formação Reticular é o ponto de convergência das informações vindas dos músculos estriados, lisos e das aferências sensitivas e sensoriais de todo o organismo; ao mesmo tempo possui sistemas efetores que atuam, por um lado, facilitando ou inibindo centros motores medulares que agem diretamente nos músculos e, por outro lado, partindo para centros corticais superiores dos quais também recebe influência.
Para compreendermos o músculo como “órgão dos sentidos” é preciso conhecer as estruturas sensitivas que o compõem, assim como seu mecanismo de atuação. Este estudo refere-se apenas aos músculos estriados (ou esqueléticos) porque são estes que possuem as estruturas sensoriais (ou proprioceptores) que, conforme descrição de Fonseca (1987), são os seguintes:
1.      Fuso neuro-muscular  =  conjunto de fibras (intrafusoriais) colocadas paralelamente às fibras dos músculos onde estão inseridas (extrafusoriais). Sua inervação motora está localizada nas duas extremidades e sua inervação sensitiva, na zona central, assegurada por terminações ânulo-espirais e em leque.
2.      Corpúsculos de Golgi  =  estruturas nervosas, sensitivas, inseridas nos tendões, com função de comunicar à medula o grau de alongamento ou encurtamento do músculo provocado passivamente ou por contração muscular.
3.      Corpúsculos de Ruffini =  além de fibras mielinizadas sensíveis a movimentos de pressão, são também terminações nervosas livres (e sem mielina) sensíveis à dor e à temperatura, situadas no periósteo.

Em resumo, inúmeras terminações nervosas estão espalhadas por todo o corpo, localizadas e distribuídas nas proximidades e zonas afins das articulações (músculos, tendões, periósteo, ligamentos e cápsulas articulares) permitindo os reflexos tendinosos, miotáticos e periósteos, que constituem um dos aspectos da função tônica. Essas estruturas são indispensáveis à postura e ao movimento.
Para compreendermos melhor esse processo, Costallat (1984) explica que o primeiro centro anátomo-fisiológico que regula o tônus encontra-se a nível medular de onde se realiza o reflexo miotático de Sherrington, o qual necessita de informações de células sensitivas que se encontram no interior do músculo (já mencionadas). Esse reflexo é o responsável pela posição vertical e bípede exclusiva do ser humano.
A excitação dessas células é transmitida à medula que por sua vez retransmite ao músculo em circuito de retorno, por meio de motoneurônios, as excitações que causam o aumento do tônus. Este processo torna-se ainda mais complexo devido a um “sistema gama” descoberto há pouco tempo, onde além de um circuito a nível medular, os motoneurônios gama sofrem influência ou intervenção dos centros superiores de regulação tônica, em particular de substâncias reticulares, do tegumento mesencefálico, do hipotálamo e do tálamo superior, formações de nível subcortical. Mensagens procedentes também do córtex cerebral ajudam a constituir um terceiro nível de controle tônico.
Fonseca (1987) salienta o caráter emocional de tal processo explicando que o músculo recebe as alterações de tensão e alongamento-encurtamento enviando-os à medula que as faz chegar ao cerebelo. O cérebro recebe, portanto, essas informações já tratadas pelo cerebelo e pelo tálamo, enviando para o músculo  “os valores humanos e afetivos que vão dar um significado existencial à contração que materializa (em síntese) aquela atividade psíquica superior” (p. 134).
Chockler (1988) também menciona esse sistema de relações entre estruturas centrais e periféricas como um suporte material da atividade psíquica e conclui a respeito dizendo que:

“O tônus muscular que mantém a atitude, prepara e guia o movimento, é também, e ao mesmo tempo, expressão das flutuações emocionais e de uma tomada de contato com o outro, assumindo, tal como assinala Wallon, desde suas origens, a função mais primitiva, durante muito tempo a única, de comunicação com o grupo social, inicialmente familiar” (p. 112).

A emoção é vista então por Wallon como uma maneira de adaptar-se ao meio e essa adaptação é de origem essencialmente postural, tendo em sua base o tônus muscular. Fonseca (1987) ilustra bem essa mesma postura ao comentar das primeiras aprendizagens na relação pais-filho onde se observa a hipertonia característica do recém-nascido chorando pela mamadeira e a hipotonia quando este já sorri satisfeito após a mamada. Seriam estas as primeiras frustrações e satisfações da criança em sua vida relacional e essa  vivência tônica  torna-se, na verdade, o alicerce das atitudes de formação do caráter da criança desde o diálogo corporal  com a mãe até a fase pré-verbal.
O enfoque de Costallat (1984) quanto à influência do tônus na conduta humana é também o de reconhecê-lo como propulsor ou moderador de tal conduta ficando condicionadas a essa regulação, as formas de expressão do "EU". Tal autora cita o relaxamento como um exemplo evidente da relação entre o psiquismo e a regulação tônica, sendo uma forma de alcançar a harmonia muscular, evitando reações impulsivas e obtendo um maior domínio de si mesmo.





DINÂMICA  GLOBAL


Implica em movimentos que utilizam os grandes grupos musculares, com ou sem deslocamento. Requer certas capacidades de uso adequado desses músculos dependendo essencialmente da regulação tônica normal para se atingir uma coordenação harmoniosa e econômica na realização do movimento. A capacidade de inibição de movimentos é também muito importante na aprendizagem motora.
A educação da dinâmica global deve seguir certos princípios e respeitar certas regras (Costallat, 1984) :

ü  Desenvolver-se progressivamente, partindo de exercícios simples, tanto globais como específicos, até chegar aos mais complexos.
ü  Esta progressão deve seguir as dificuldades que a criança pode vencer em cada idade de desenvolvimento.
ü  A marcha, a corrida e o salto, em todas as suas variantes, constituem as exercitações básicas que conduzem a um melhor domínio da atividade corporal.

ü  Sandra Curtiss (1988) acrescenta que o mais importante quando se trabalha com o movimento é saber que as mudanças ocorrem em todas as crianças, só que em umas mais lentamente que em outras. Tais mudanças decorrem da repetição, da variação e da prática. Esta autora utiliza-se, na sua proposta de trabalho, de alguns aspectos que favorecem mudanças no desempenho da criança, como dos  4  aos  6  anos ® progressiva socialização do pensamento – a imagem se percebe como uma força humana.
:
ü  desafios provocadores,
ü  sucesso  e
ü  muito encorajamento.


DINÂMICA  MANUAL


Segundo Costallat (1984) É uma faceta da coordenação geral (segundo Costallat, 1984) e depende da estruturação do esquema corporal e da organização espaço-temporal para atingir :
ü  movimentação diferenciada dos dedos da mão;
ü  identificação nominal de mãos e dedos;
ü  escolha correta do dedo para imitação do modelo.
Essa organização do movimento manual coordenado se dá de forma progressiva devendo-se, num procedimento de educação manual, considerar os padrões adequados para cada faixa etária.
Do recém-nascido até os 5 – 6  anos, o processo de dissociação de braços e mãos evolui progressivamente em : bilaterais, bi-manuais, bi-uni-manuais, bi-uni-destros e finalmente, uni-laterais com definição paulatina da dominância lateral.
A forma de aproximar-se e manipular objetos vai se refinando gradualmente nas preensões : em garra,  forma palmar, rádio-palmar, dígito-palmar e digital fina  (pinça).
A motricidade digital deve culminar num processo de dissociação que se desenvolve no sentido próximo-distal, atingindo independência total e mobilidade rápida por volta dos  7 – 8 anos.


COORDENAÇÃO  VISO-MOTORA


A coordenação visomotora implica na coincidência entre um ato motor e uma estimulação visual percebida (portanto em indivíduos videntes). Evolui paralelamente à motricidade manual-digital, formando um dinamismo manual conjunto.
A educação da coordenação visomotora e da dinâmica manual inicia-se por volta dos  3  anos, seguindo algumas etapas, segundo Costallat (1984) :
§  controle de mobilidade ® posição sentada
§  controle motor ocular
§  atenção visual
§  manipulação e preensão
§  estimulação sensorial concomitante para a estruturação crescente do pensamento (permanência do objeto ® imagem mental)
§  controle dos movimentos e gradual inibição no processo e manipulação dos objetos
§  exercícios de destreza e coordenação manual (ex. movimentos amplos : vestir-se / movimentos restritos : enfiagem, calcado, punção, recorte, modelagem)
§  exercícios de coordenação rítmico-motora de membros superiores
§  exercícios contra as sincinesias manuais
§  exercícios de ginástica das mãos
§  exercícios gráficos preparatórios para a escrita
§  exercícios de lançamento de bola.



GRAFOMOTRICIDADE

Trata-se do estudo da utilização do corpo na atividade gráfica.
Analisando os fatores motores que intervêm durante a atividade gráfica, destaca-se a combinação da atividade postural (tônus/freio inibitório) com a capacidade dissociativa, preensão correta, elasticidade do sistema motor-ocular e ação coordenada da mão sob a linha. Estes fatores, juntamente com os componentes psíquicos e intelectuais, vão permitir a apreensão do conhecimento e sua fixação.
A atenção, memória visual e auditiva, capacidade de saber escutar, são fatores psíquicos que, juntamente com os aspectos motores e os fatores perceptivo-visuais, formam um complexo psicomotor de base, que permitirá a integração harmoniosa dos processos inteligentes que promoverão a aprendizagem.


DOMINÂNCIA  LATERAL / LATERALIDADE


Há muitas controvérsias quanto aos termos empregados ao se falar em lateralidade. Tentaremos adotar a terminologia de A . Negrine (1986).
Para Negrine (1986, p. 28) “a lateralidade corporal refere-se ao esquema interno do indivíduo, que o capacita a utilizar um lado do corpo com melhor desembaraço do que o outro, em atividades que requeiram habilidade, caracterizando-se por uma assimetria funcional”. A lateralidade é a bússola do esquema corporal. O lado direito e o esquerdo não são homogêneos e esta distribuição se manifesta ao longo do desenvolvimento e da experimentação.
É necessário que a criança adquira, primeiramente, certo grau de consciência corporal para que possa desenvolver a dominância manual e a lateralidade.
A noção de direita e esquerda refere-se à noção espacial ou direcionalidade (espaço externo ao indivíduo). Lateralização refere-se ao espaço interno e independe da discriminação de direita e esquerda.
Considerando os estímulos recebidos pelo organismo (íntero, extero e proprioceptivos) e que vão estabelecendo o esquema corporal, pode-se dizer a lateralização se afirma a partir dos estímulos que nascem dentro do corpo (proprioceptivos) e a organização espacial se estrutura a partir dos estímulos exteriores. (exteroceptivos).
Quanto à afirmação definitiva da lateralização, não há comprovação de sua concretização final, mas sabe-se que são poucas as crianças que a apresentam homogênea e definida antes dos seis anos.
Do ponto de vista pedagógico, cabe aqui destacar que não se deve forçar uma criança a ser destra ou canhota. Recomenda-se possibilitar às crianças que se envolvam com atividades manuais, pedais e oculares que determinem o uso de um único segmento, sem qualquer forma de pressão. Se este trabalho for realizado em situação espontânea, sem determinação de qual segmento deverá usar, estar-se-á contribuindo para o seu desenvolvimento psicomotor.
Em trabalhos com crianças que evidenciam dominância lateral esquerda, deve-se cuidar para : uso de tesouras, outros acessórios, carteiras com braço, espiral de caderno, etc.


DOMINÂNCIA  HEMISFÉRICA


O cérebro é dividido em 2 hemisférios, cada um controlando os movimentos da parte oposta do corpo.
A dominância de um hemisfério cerebral sobre o outro é mais evidente em funções mais complexas, de onde se determina que são funções lateralizadas e próprias da espécie humana.
Existe uma gradação no uso preferencial de um hemicorpo, que vai desde as pessoas fortemente destras até as completamente canhotas, passando por aquelas com excelente habilidade em ambas as mãos – ambidestras – e outras desajeitadas, conhecidas como ambicanhestas.
Há também dominância lateral para os olhos e essa escolha depende mais da habilidade dos músculos que os movimentam, do que da acuidade visual.
Crianças com lateralização mal definida ou que foram forçadas a usar a mão direita (sendo canhotas), podem apresentar dificuldades de aprendizagem. Neste último caso, com o agravante de tensão e ansiedade de estarem sendo obrigadas a fazer algo não espontâneo.


ESTRUTURAÇÃO  ESPACIAL


Segundo  J. M. Tasset (apud De Meur & Staes, 1984, p. 13), estruturação espacial “é a orientação, a estruturação do mundo exterior, referindo-se primeiramente ao eu referencial, depois a outros objetos ou pessoas em posição estática ou em movimento”.
 Estes autores caracterizam tal conceito como :
ü  tomada de consciência da situação de seu próprio corpo em um meio ambiente, ou seja, do lugar e da orientação que este corpo pode Ter em relação às pessoas e coisas;
ü  tomada de consciência das situações das coisas entre si;
ü  possibilidade para a pessoa, de organizar-se no ambiente que a cerca, de organizar as coisas entre si, colocando-as em um lugar ou movimentando-as.

Essa estruturação é parte integrante da nossa vida e requer certos domínios como : o uso de termos espaciais (ao lado, à frente, etc.), organização e orientação.
Organizar é combinar, dispor, fazendo relações espaciais entre figuras e/ou coisas, de acordo com sua posição. Envolve simetria, labirintos, etc.
Orientar é perceber a direção. Envolve discriminações perceptuais visuais e auditivas, aquisição de direção gráfica.
Lapièrre e Aucouturier (apud Negrine, 1986) afirmam que “não existe espaço vivenciado fora do tempo”, sendo a atividade motora necessária e indissociavelmente espaço-temporal. Afirmam ainda, que a estruturação espacial desenvolve-se com o conhecimento e domínio das noções de contrastes, a partir dos quais a criança passará a identificar os pontos intermediários e a se localizar melhor no espaço. Os contrastes se dividem em 5 categorias :

û noções de intensidade – ligadas ao grau de força dos estímulos percebidos sensorialmente :
a)      Visão ® Claro / Escuro
                     Rápido / Lento

b)      Olfato e Paladar ® Forte / Fraco
 Bom / Ruim

c)      Audição ® Som Forte / Som Fraco
                         Agudo / Grave

d)      Tato ® Duro / Mole
                   Quente / Frio
                   Áspero / Liso

e)      Cinestesia ® Duro / Mole
                             Pesado / Leve
      Forte / Fraco


û noções de grandeza :
§  Grande / Pequeno
§  Longo / Curto
§  Longe / Perto
§  Maior / Menor

û noções de velocidade – contrastes determinados pelas ações :
§  Rápido / Lento

û noções de direção, de situação e de orientação – definem topologicamente a organização espaço-temporal :
§  Antes / Depois
§  Frente / Trás
§  Começo / Fim
§  Aquém / Além
§  Dentro / Fora
§  Acima / Abaixo
§  Direita / Esquerda  *

û noções de relação – consigo mesma, com o outro e com o mundo (sentido psicológico) :
§  Alegre / Triste
§  Feliz / Infeliz
§  Perguntar / Responder
§  Amar / Odiar
§  Bom / Mau
§  Verdadeiro / Falso
§  Bem / Mal
§  Certo / Errado

* Analisando-se mais detalhadamente a noção de Direita / Esquerda, observa-se que tal discriminação se processa em diferentes níveis :

1º - em relação ao próprio corpo (por volta dos 6 anos e depende das noções acima citadas)
2º - em relação ao corpo do outro ( por volta dos 7 – 8 anos e depende da fase anterior)
3º - em relação à figura esquemática ( por volta de 9 – 10 anos e depende da fase anterior)
4º - em relação ao mundo dos objetos ( por volta dos 11 anos dependendo, logicamente, de um bom aprendizado dos estágios anteriores).


ORIENTAÇÃO  TEMPORAL


Encontramos em De Meur & Staes (1984) a noção de estruturação temporal como sendo a capacidade de situar-se em função :
ü  da sucessão de acontecimentos : antes, após, durante.
ü  da duração de intervalos :
-         tempo longo / curto – uma hora, um minuto;
-         ritmo regular / irregular – aceleração, freada;
-         cadência rápida / lenta – correr, andar.
ü  da renovação cíclica de certos períodos : dias da semana, meses, estações.
ü  do caráter irreversível do tempo : “já passou”, envelhecimento (plantas, pessoas).

As noções temporais são muito abstratas, o que exige da criança uma série de vivências para que possa, gradativamente, adquiri-las.
Sabe-se que existem 2 tipos de tempo :
¨      subjetivo : criado por nossa própria impressão; varia conforme as pessoas e as atividades do momento.
¨      objetivo : é o tempo matemático, sempre idêntico.
O que se desenvolve na criança, entretanto, é o tempo objetivo, a partir de pontos de referência como : hora das refeições, dias de atividades especiais, etc., que são de suma importância na vida cotidiana.


RITMO


Segundo Le Boulch (1984) “é através do ritmo dos movimentos registrados no seu corpo que a criança tem acesso à organização temporal”.
O ritmo é um componente da vida e está na base de todo movimento.
A criança percebe o ritmo e sente vontade de mover-se, explorando as capacidades musculares de seu corpo (tensão/ relaxamento); também tem acesso ao ritmo pelo domínio dos sons. Interessa-se por tudo que faz barulho, pelo canto, pela música e instrumentos musicais. É através de suas percepções/ execuções que a criança molda seu “ritmo pessoal”, o qual determina as capacidades de adaptação do indivíduo aos ritmos exteriores.
A sincronização som / movimento é conseguida pelas crianças a partir de algumas tentativas. A educação psicomotora (rítmica) não tem por objetivo fazer a criança adquirir os ritmos, senão favorecer a expressão de sua motricidade natural, cuja característica essencial é a ritmicidade.
Pela dupla exigência de escutar e expressar, exige-se da criança uma presença total, uma participação mental e corporal. A educação rítmica é, pois, um treino de concentração e atenção, além de proporcionar a descoberta, a aprendizagem e o domínio das relações espaço-temporais. Está baseada na improvisação despertando na criança a imaginação, memória, capacidade de solucionar problemas (adaptar-se ao espaço, mudança de velocidade, etc.).

ATIVIDADE  PSICOFUNCIONAL

ATENÇÃO


O estudo da atenção tem sido objeto de grande interesse na área da Educação, pois determina de forma decisiva a eficácia do ensino no processo da aprendizagem.
Vários são os fatores que levam a criança a manifestar problemas de atenção e o professor deve se inteirar dos mesmos, a fim de auxiliar seus alunos da forma mais correta possível. Problemas neurológicos, orgânicos, culturais, sociais, familiares, escolares e psicológicos, interligados entre si, podem justificar o comportamento de desatenção em uma criança. Não fixando a atenção, a aprendizagem ocorre em lacunas e não haverá a fixação do conhecimento. A atenção, portanto, precede a todo ensinamento.



clique aqui e aprendar a prescrever atividades psicomotoras

Mas, afinal de contas, o que é “atenção” ?

Sabemos que nosso cérebro recebe, incessantemente, numerosas informações através de receptores sensoriais (íntero, extero e proprioceptores) e, sem poder responder adaptativamente a todas elas, necessita de um processo de seleção, de filtragem das mesmas, que pode ser chamado de Atenção. O organismo tende a manifestar uma reação de alerta para estímulos que sejam discrepantes, ou melhor, diferentes dos habituais, desde que tenha certo interesse para ele (motivação); ao focalizar um estímulo, despreza os que são não-pertinentes e esse processo de comparação pressupõe a participação da memória junto à atenção.
Em estudos com bebês descrito em  Bee (1984) observou-se que em torno dos 2 meses de idade a criança está preocupada em “onde”  o objeto está; acima desta idade ela se concentra em  “o que é” determinado objeto.


Princípio da discrepância (por Jerome Kagan, apud Bee, 1984) : o bebê olhará, ouvirá, tocará ou brincará com as coisas que são  “moderadamente” discrepantes do que ele já experimentou. Esta afirmativa tem respaldo em Piaget quando este enfatiza que a criança está constantemente  “assimilando” novas experiências e comparando-as com as anteriores. Quando se organizam, tornam-se familiares e há menos a aprender delas. Quando são completamente novas, não podem ser absorvidas, pois não se pode relacioná-las com experiência anterior.

Este princípio acima citado leva o professor a considerar com mais carinho a gradação de dificuldade em exercícios dados aos alunos, assim como o vocabulário usado nas instruções aos mesmos.



CONCENTRAÇÃO


Segundo Britta Holle (1979), ser capaz de concentrar-se é :
ü  dirigir a atenção para alguma coisa durante um tempo considerável;
ü  terminar alguma coisa antes que a atenção se dirija para outra;
ü  não se distrair por estímulos menos importantes.

Para se atingir isto, é preciso :
1.      Órgãos da visão e audição intactos.
A visão binocular está totalmente desenvolvida aos 6 / 7 anos. Quanto à audição, aos 5 anos a criança tem uma execução rápida frente à instrução.
2.      Desenvolvimento perceptivo normal, visto ser através da sensopercepção que se extrai informações do ambiente.
3.      Maturidade psíquica / condições intelectuais.
4.      Motivação.
5.      Desenvolvimento psicomotor harmonioso – a atividade psicofuncional caminha em paralelo com a atividade tônica (postura, freio inibitório, equilíbrio).



EDUCAÇÃO  DA  ATENÇÃO


Sem atenção estável, o manejo que a criança fará sobre os objetos didáticos será desordenado e sem utilidade no processo educativo. Por isso é necessário preparar a criança por meio da educação psicofuncional, que se propõe a ordenar e orientar positivamente as reais capacidades psíquicas e intelectuais que ela possui, estruturando-as sobre a base de uma atenção mantida, que pode promover um nível de ação adequado.
Os exercícios de atenção devem respeitar certas condições ao serem aplicados:
1)      Instruções breves e claras;
2)      Intervalo entre a explicação e a ordem de partida;
3)      Intervalo de tempo entre um exercício e outro;
4)      Duração progressiva : no princípio, exercícios breves para não fatigar;
5)      Realizar tais exercícios nos primeiros momentos de aula.

Para alcançar o mínimo de fadiga e o máximo de interesse, deve-se levar em conta alguns dados de investigação em Psicofísica, muito interessantes :
1.      Os estímulos mais apropriados são os auditivos (provocam reações mais rápidas), visuais e táteis;
2.      Nas exigências das respostas, considerar as patologias de alguns casos;
3.      Estimular a mesma função com vários exercícios;
4.      O período matutino é melhor que o vespertino;
5.      Calor e umidade excessivos interferem no bom desenvolvimento do exercício.

Os exercícios visam incentivar a criança a  “escutar” e  “ver”, isto é, perceber melhor o mundo, auditiva e visualmente. Já sabemos que a criança só percebe aquilo que lhe chama a atenção, interessando-se por aquilo que compreende.
O propósito destas atividades é levar o cérebro a funcionar continuamente de forma rápida, para receber e perceber estímulos e em seguida traduzi-los em ação.
Quando a criança é hiperativa, alguns autores aconselham que ela seja posicionada (no ambiente) de tal forma que os estímulos indesejáveis a sua volta não a distraiam.
O estímulo só deve ser dado quando a criança estiver receptiva a ele, pois, do contrário, não reagirá bem. Quando ela aprende a prestar atenção, o próximo passo é manter a mesma na tarefa ( = concentração). A sequência a ser seguida deve ser :
·        estímulos simples – um sentido;
·        estímulos de vários sentidos;
·        exercícios de natureza mais intelectual.

Dalila Costallat (1990) propõe a seguinte classificação dos exercícios de concentração :
1)      Exercícios manuais (coordenação viso-motora) : quebra-cabeças, dominós, encaixes, etc.
2)      Exercícios gráficos : completar figuras, fazer  “X” em figuras iguais, etc.
3)      Exercícios verbais : variação de exercícios gráficos, jogos de orientação.
Ex. : Vou falar uma lista de palavras com “V”; ao falar uma palavra com “F” vocês batem palmas.
4)      Exercícios rítmicos : bater palmas em ritmo regular ou quando ouvir um som; colocar a mão na cabeça quando ouvir um apito; na cintura quando ouvir palmas.
5)      Exercícios lúdicos : são jogos de atenção e estimulação auditiva, visual, tátil, com deslocamento, que se utilizam para exercitar os diferentes tipos de percepção.



PERCEPÇÃO


Segundo Novaes (apud Negrine, 1986) perceber consiste essencialmente em identificar, sendo uma forma de adaptação à realidade ambiental que pressupõe um longo processo de aprendizagens : de identificação, tanto do tipo espaço-temporal quanto por denominação, levando à discriminação de formas, sinais e símbolos. Está intimamente ligada ao desenvolvimento intelectual e vai-se elaborando progressivamente em função da atividade operatória da criança.
Trocando em miúdos, a percepção trata-se de uma conduta psicológica onde a criança deve : discriminar estímulos sensoriais  +  organizar todas as sensações em um todo significativo  +  interpretação dos dados  +  associação a experiências anteriores. Necessita portanto, de atenção, organização, discriminação e seleção, apresentando-se através de respostas verbais, motoras e gráficas.
Gibson (apud Bee, 1984) salienta que no desenvolvimento da atenção vai acontecendo aprendizagem de diferenciação perceptiva, ou seja, a criança vai diferenciando aspectos do ambiente através de características distintivas ( as mais importantes).
Quando a atenção é dispersa, o estímulo é percebido por breves instantes provocando uma resposta incompleta ou deformada; não há a elaboração do pensamento sobre o material pedagógico, no sentido de ordenação, classificação, etc.
A educação desta área se dá por meio de estimulações das vias sensoriais receptivas, desenvolvendo-se ao máximo a capacidade de captação, a acuidade perceptiva, a fixação na memória e a resposta correta a nível verbal ou dinâmico.
O ponto de partida está no fator  “atenção” e, sem ela não há fixação na memória.
A estimulação não pode ser improvisada, devendo haver seleção de estímulos que melhor vão atender às necessidades da criança.

CONSTÂNCIAS  PERCEPTIVAS Þ aspecto particular do desenvolvimento da percepção; quando a percepção de um objeto parecer constante, apesar do mesmo sofrer modificações na imagem retiniana.

Ao ir decodificando o mundo a criança deve aprender que :
§  os objetos continuam a existir mesmo que não se possa vê-los ou senti-los;
§  os objetos contêm uma identidade única.

As constâncias perceptivas podem ser classificadas em :
a)      de tamanho / profundidade – já está claramente definida aos 6 meses;
b)      da forma – não totalmente desenvolvida antes dos 2 / 3 anos;
c)      da cor;
d)      do objeto – levando ao conceito de objeto através da compreensão da permanência e identidade do mesmo.

Helen Bee (1984) faz um interessante comentário dizendo que o desenvolvimento do conceito de objeto implica no desenvolvimento do relacionamento e ligações afetivas da criança com a pessoa ao seu redor.

FUNÇÕES  DA  LINGUAGEM  NA  PERCEPÇÃO  E  NA  ATENÇÃO Þ romper a ligação entre o movimento e a percepção direta, imediata dos fatos. A criança começa a ser capaz de dominar sua atenção, reconstruir sua percepção, analisar a importância relativa dos elementos envolvidos nas situações e destacar figura/ fundo, possibilitando-lhe maior controle de suas atividades.
“Além de reorganizar o campo viso-espacial, a criança, com o auxílio da fala, cria um campo temporal que lhe é tão perceptivo e real quanto o visual. A criança que fala tem, dessa forma, a capacidade de dirigir sua atenção de uma maneira dinâmica. Ela pode perceber mudanças na sua situação imediata do ponto de vista de suas atividades passadas, e pode agir no presente com a perspectiva de futuro"”                                       (Vygotsky, 1991)
Combinar passado e presente é função da memória. Com a inclusão do futuro (representado por signos), desenvolve-se um sistema psicológico que engloba duas outras funções : as intenções e as representações simbólicas das ações propositadas, relacionadas às necessidades e motivações.

FUNÇÃO  DO  MOVIMENTO :

Conforme explica Piaget (in Reuchlin, 1974) não só as coordenações de informações sensoriais são suficientes para fornecer a noção de um objeto, assim como de sua permanência. É através da atividade (movimentação) e consequente coordenação entre visão e preensão, que a criança vai retirando dos objetos suas propriedades e características, experimentando afastar-se deles, a afastar os obstáculos que a impedem de vê-lo. A criança vai construindo o espaço, tanto de ação (sensório-motor) como representativo (simbólico), que vai se estruturando até aproximadamente os doze anos de idade, em correlação com o desenvolvimento da inteligência.
Fonseca e Mendes (1987) afirmam ser impossível dissociar a ação (aspecto motor) da representação (aspecto psicológico correspondente).

























             BIBLIOGRAFIA   &

ANDRADE, M . L . A . ;  Distúrbios Psicomotores ; Coleção Temas Básicos de Psicologia ; EPU ; São Paulo : S.P. ; 1984 ; volume 6.

BEE, H. ; A criança em desenvolvimento ; Editora Harbra ; São Paulo ; S.P. ; 1984.

CHOKLER, M. H. ; Los organizadores del desarrollo psicomotor : del mecanismo a la psicomotricidad operativa ;  Ediciones Cinco ; Buenos Aires; ARG. ; 1988.

CHAZAUD, J. ;  Introdução à Psicomotricidade ; Manole Editores ; São Paulo ; S.P. ; 1976.

COSTALLAT, D.M. ; La Entidad Psicomotriz : abordage de su estudio y su educación; Losada ; Buenos Aires ; ARG. ; 1984.

COSTALLAT, D.M.  ;  Psicomotricidade ; Editora globo ; Rio de Janeiro ; 1985.

COSTALLAT, D. M. ;  Psicomotricidade : el niño deficiente mental y psicomotor ; Losada ; Buenos Aires ; ARG. ; 1990.

CURTISS, S. ;  A Alegria do movimento na pré-escola ; Artes Médicas ; Porto Alegre ; 1988.

DE MEUR, A .  e STAES, L. ; Psicomotricidade : Educação e Reeducação ; Manole Editores ; São Paulo ; S.P. ; 1984.

FONSECA, V.  ;  Contributo para o estudo da gênese da psicomotricidade ; Editorial Notícias ; Lisboa ; POR. ; 1981.

FONSECA, V.  e MENDES, N. ;  Escola, escola, quem tu és ? ; Artes Médicas ; Porto Alegre ; 1987.

FONSECA, V. ; Da Filogênese à Ontogênese da Motricidade ; Artes Médicas ; Porto Alegre ; 1987.

GESELL e AMATRUDA ; Diagnóstico do Desenvolvimento ; Atheneu ; Rio de Janeiro ; 1990.

HOLLE, B. ; Desenvolvimento Motor na Criança Normal e Retardada ; Manole Editores ; São paulo ; S.P. ; 1979.

LE BOULCH, J. ; A Educação pelo Movimento : A psicocinética na idade escolar ; Artes Médicas ; Porto Alegre ; 1983.

LE BOULCH, J. ; O desenvolvimento Psicomotor : do nascimento aos 6 anos ; Artes Médicas ; Porto Alegre ; 1982.

MASSON, S. ; Generalidades sobre  a Reeducação psicomotora e o Exame Psicomotor; Manole Editores ; São Paulo ; S.P. ; 1985.

NEGRINE, A . ; A Coordenação Psicomotora e suas implicações ; Pallotti ; Porto Alegre ; 1987.

VYGOTSKY, L. S. ; A Formação social da Mente ; Martins Fontes ; São Paulo ; S.P. ; 1991.

VAYER, P. ; A criança diante do mundo ; Artes Médicas ; Porto Alegre ; 1986.



clique aqui e aprendar a prescrever atividades psicomotoras














0 Comments