O Atual papel da
Educação física no Contexto Escolar e sua importância no currículo
A
Educação física no contexto Escolar Atual
Atualmente,
muitos professores levam a educação física a níveis abstratos, deixando a atividade
motora em terceiro plano; não interpretando o ser humano na sua individualidade
e subjetividade, mas sim por classe social deixando de lado o verdadeiro o
papel da educação física na vida de cada indivíduo; pois atualmente onde os
jogos de computador (que estimulam o sedentarismo) estão aumentando cada vez
mais, a aula de educação física é muitas vezes a única atividade física que os
alunos realizam.
Constitui-se
um consenso de que o acesso à educação é um direito do cidadão e um dever do
Estado; sendo assim a Educação Física parte integrante do currículo escolar, é
mais do que natural entendê-la como um direito de todos que pela escola
passarem.
Entretanto,
nem sempre fazer parte do currículo significa que essa disciplina consiga
oferecer igualdade de oportunidade a todos. Da mesma forma como muitos alunos
não conseguem permanecer na escola, muitos não conseguem participar de uma aula
de Educação Física. Os motivos podem ser os mais diversos e transitam entre a
falta de espaço; falta de material; falta de habilidade motora do aluno e falta
de interesse dos alunos.
O
problema do professor reside em encontrar alternativas para a não exclusão;
repensar sua própria prática pedagógica a fim de torná-la acessível a todos os
alunos. Ao mesmo tempo, poderá fazer com que os próprios alunos entendam seus
direitos e possam cobrá-los, seja de diretores da escola ou de outras
autoridades competentes. Não cabe ao professor o papel exclusivo de gerenciar
os direitos dos alunos, mas ser o responsável por fazê-los compreender que não
possuem apenas deveres.
O
acesso aos conhecimentos da Educação Física deve constituir-se em direito e
instrumentos de transformação individual e coletiva, na busca da superação das
desigualdades sociais, do exercício da justiça e da liberdade, da constituição
de atitudes éticas de cooperação e de solidariedade.
Buscar
uma Educação Física cujas vivências propiciadas no ambiente escolar permitam
também ao aluno pensar em alternativas que façam com que os próprios alunos
deixem de se excluir de determinadas atividades, por quaisquer que sejam os
motivos, deve ser uma preocupação dos educadores. Sabemos que muitas meninas,
por serem obesas (fora do padrão atual de beleza feminino), deixam de
frequentar as aulas de Educação física, muitas vezes, não pelo fato de não
gostarem de praticar atividade física, mas sim por encontrarem um ambiente que
não respeita as diferenças.
A
importância do movimento no desenvolvimento do ser humano
Os
movimentos são de grande importância, pois é através destes que o ser humano
interage com o meio ambiente. Essa interação com o meio é um aspecto
fundamental para a sobrevivência e desenvolvimento de todo e qualquer sistema
vivo. São através deles que o ser humano age sobre o meio ambiente para
alcançar objetivos desejados ou satisfazer suas necessidades; são de grande
importância biológica para o organismo, no sentido de que constituem os atos
que solucionam problemas motores. A importância dos movimentos é um aspecto
crítico do nosso desenvolvimento evolucionário. A comunicação, expressão da
criatividade e dos sentimentos são feitas através de movimentos. É por meio
deles que o ser humano se relaciona com o outro, aprende sobre si mesmo, quem
ele é, o que é capaz de fazer.
O
movimento se relaciona com o desenvolvimento cognitivo no sentido de que a
interação das sensações provenientes de movimentos resulta na percepção e toda
aprendizagem simbólica posterior depende da organização destas percepções em
forma de estrutura cognitiva.
Onde
existe vida existe movimento.
O
Movimento e as Emoções
De acordo com Wallon
(1995) e Barreto e Kammers (2002), desde o nascimento, e até antes disso, a
criança começa a se relacionar com o mundo. Este relacionamento está pautados
principalmente em dois grandes fatores, diretamente ligados à sensibilidade, à
percepção, à integração entre as funções biológicas, sociais e intelectuais do
indivíduo:
·
A subjetividade às
emoções (afetividade, prazer, satisfação, paixão, compreensão, medo, raiva,
frustração, submissão, agressividade, etc.), ou seja, o modo como reage às
emoções, sentimentos e desejos.
·
A capacidade de
comunicação e expressão.
Antes de aprender a
falar, a criança já se expressa através de gestos, caretas e movimentos,
estabelecendo uma comunicação não verbal, inicialmente imitativa, e à medida
que vai incorporando símbolos, torna-se cada vez mais criativa, intencional e
racional.
Com o passar dos anos,
a criança vai estabelecendo possibilidades entre recursos expressivos e
conteúdos a ser expressos. Por isso, dentro desta perspectiva, emoções,
expressão e movimento são indissociáveis. O corpo e o movimento passam a ser
compreendidos como formas privilegiadas de expressão, ou seja, a criança,
através da experimentação dos mais diversos movimentos, além de construir
enorme vocabulário motor, constrói também seu vocabulário afetivo (a partir da
interação com colegas e adultos).
Dentre todas as
disciplinas do currículo escolar, a Educação Física é uma das mais
privilegiadas. Isto porque todos os tópicos mencionados anteriormente estão
entre os seus principais “conteúdos de ensino”. É a única disciplina que pode,
com tamanha liberdade, envolver o movimento e o sentimento humanos, dando-lhes
os enfoques de acordo com os mais variados objetivos. Além disso, a criança
sente necessidade de movimentar-se, extravasar suas energias, muitas vezes
acumuladas em extenuantes horas passadas em cima de uma cadeira na sala de
aula.
O
prazer que a criança sente ao participar da aula de Educação Física está
provavelmente ligado aos seguintes fatores:
a.
À troca de ambiente (saída da
sala de aula – espaço este, que a remete à quietude, submissão e à não
“perturbação da ordem”);
b.
À qualidade e quantidade de
experiências vivificadas, quando da maior liberdade de expressão, movimentação
e toque;
c.
À ampla interação
social/afetiva que ocorre durante as atividades.
Conforme Prista (1993),
Gaiarsa (1995) e Barbosa (1997),normalmente a educação escolar não vê a
criança; é insensível à emoção, aos interesses e às necessidades dos alunos. Os
professores esquecem e não percebem que, ao limitar o movimento, estarão
automaticamente limitando também a inteligência, pois o corpo e a mente não
estão separados, como demonstra a epistemologia moderna.
Além de fazer a criança
entrar em contato com as mais diversas emoções, a Educação Física Escolar ou
Educação Motora deve fazer também com que ela aprenda a lidar com a
afetividade, favorecendo assim o autocontrole e o autoconhecimento. Este
“estado de consciência” se refletirá posteriormente no relacionamento com os
outros, na forma de inteligência emocional.
A criança cria e vive
suas emoções realmente através da ação, do movimento, do seu corpo e sente
necessidades de socializar suas conquistas e habilidades motoras. Logo,
entendemos que uma das mais importantes funções da Educação Física é a promoção
da socialização. Ao oferecer oportunidades para a criança expressar-se
adequadamente e, através de uma gama de atividades, entrar em contato com suas
emoções (e consequentemente sua representação perante o grupo), começa a
interiorizar e discernir comportamentos, criando um vocabulário afetivo, que é à
base de sua “inteligência emocional”, ou ainda, “inteligência inter e
intrapessoal”. Aprimora a capacidade de relacionar-se e manter o equilíbrio
emocional frente a diversas situações; e este aprendizado é de suma importância
na formação do indivíduo adulto.
Metodologia Lúdica
como proposta pedagógica
A infância é uma fase
importante da vida do homem. É nela que se estabelecem os laços familiares, as
relações sociais, a criança se percebe como indivíduo, inicia o processo de
desenvolvimento cognitivo (em especial da linguagem), afetivo e motor.
A Educação Física,
enquanto disciplina curricular tenta resgatar sua função integralista no
desenvolvimento do futuro cidadão. Tem amplas e ricas possibilidades de
trabalhar as mais diversas inteligências (motora, lógico-matemática, musical,
artística, etc.), utilizando diferentes metodologias que favorecem o
desenvolvimento das mais diversas potencialidades, desafiando limites.
Assim, podemos traçar
um paralelo entre a aprendizagem e o lúdico. O brincar é uma característica
evolutiva, fundamental para o crescimento e desenvolvimento do ser humano. A
influência do brincar tem ligação direta no grau de desenvolvimento
biopsicossocial da criança. Por exemplo, as atividades para o conhecimento do
esquema corporal, o trabalho de exploração do corpo e dos mais diversos
materiais, o uso das percepções e suas relações com o “mundo”, o uso da
imaginação e das linguagens verbal e não verbal, imitação, etc.
A forma mais adequada
de aliar o movimento às emoções, criando no indivíduo um padrão sociável, é
através da metodologia lúdica. Através dela, a criança encontra uma maior
motivação, que facilita sua aprendizagem.
A Brincadeira e o
Jogo como estratégia educativa
Tanto a brincadeira
como o jogo podem não ter inicialmente um objetivo educativo ou de
aprendizagem. A criança desenvolve estas atividades para sua satisfação
pessoal, permitindo-se entrar em contato com os outros (colegas, pais e adultos),
com o espaço, com o meio e com a cultura na qual vive. Estão ampliadas as
possibilidades de expressão, comunicação e relacionamento. Mas, além disto,
permite que aos poucos a criança desenvolva sua autonomia, pois seguidamente
nestas atividades, toma decisões, decide os rumos da atividade, define suas
próprias ações, diferencia e incorpora símbolos.
Inicialmente, na esfera
do faz de conta, a criança tem a possibilidade de imitar a realidade, ou ainda,
num outro estágio, através da sua imaginação, criar um universo particular,
reforçando seus desejos, anseios ou autonomia. Nesta fase, esta diferenciação,
distinção entre o real e a fantasia já pressupõe aprendizado. Começa-se
desenvolver o pensamento abstrato.
Outro aspecto
importante a salientar é o potencial de exploração e manipulação de objetos que
os jogos e as brincadeiras permitem. Dentro do aspecto pedagógico, devem ser
privilegiados os jogos de comunicação, jogos motores e jogos simbólicos.
Num outro estágio,
começam os jogos caracterizados pela construção das regras. As crianças criam
estratégias para solucionar uma situação problema ou desfavorável, criam
regras/leis próprias, decidem conjuntamente os rumos do jogo ou brincadeira.
Este “desenvolvimento crítico” também pressupõe aprendizado, pois, o jogo tem
características próprias, ele possibilita às crianças entrar em contato com
costumes, com a cultura, através das práticas de sociabilidade real, ou seja,
construídas socialmente e culturalmente em cada meio.
A criança logo descobre
seu poder de transformar coisas, criar outras, substituí-las, e isso lhe
agradará de tal maneira que é quase só o que ela fará, sempre que estiver
livre. Entendemos que a utilização de uma metodologia lúdica, fornece uma maior
participação, na medida em que motiva, exercita a liberdade, a criatividade e o
prazer. É um ponto positivo em favor da inclusão. É claro que oportunamente no
jogo ou brincadeira, caberá ao professor mediar situações.
A interação entre o movimento e o
desenvolvimento cognitivo
Compreendemos o
movimento corporal como um meio educacional por excelência e quando bem
orientado, contribui para o desenvolvimento global da criança, através, entre
outros, dos seguintes aspectos: desenvolvimento das capacidades intelectuais,
do talento criativo e o favorecimento do autoconceito, afinal, a educação se dá
de corpo inteiro.
É na escola que
ocorre um aprendizado que pode tornar as pessoas mais inseridas em sua cultura,
desenvolvendo o homem em sua totalidade; ou seja, orgânica, intelectual, social
e politicamente. Deste modo, a Educação Física sugere a utilização do movimento
corporal, a linguagem corporal, seja através do jogo, brincadeira ou outras
atividades dinâmicas, que possibilitem ao aluno aprender a relacionar-se com
dignidade. Esta pedagogia deve substituir o paradigma da educação mecanicista e
autoritária, que ainda prevalece em muitas escolas brasileiras.
A primeira função do
ato motor está ligada à expressão, fazendo com que desejos, estados íntimos e
necessidades se manifestem. Isto auxilia na percepção, dando sustentação ao
pensamento.
Deve-se entender que os
níveis de desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor estão intimamente
relacionados. À medida que a criança incorpora símbolos, valores, se comunica,
se relaciona, vai atingindo um nível de amadurecimento intelectual, que a
levará a se tornar um indivíduo crítico, participativo, autônomo e
transformador da realidade em que vive; pois é capaz de realizar uma leitura de
mundo.
Conclusão
Com a qualificação profissional,
tão acentuada atualmente, o profissional está mais consciente de sua função no
âmbito escolar, bem como das ferramentas que tem à disposição para o alcance de
seus objetivos.
No contexto atual, a
Educação Física deixou de ser aula onde os alunos “apenas” brincavam ou jogavam
para ocupar o tempo (já que estava assegurada no currículo); ou quando muito,
servia para auxiliar o trabalho desenvolvido em outras disciplinas.
Como se por si só não
bastasse o desenvolvimento motor, seguramente tem função definida nos
desenvolvimentos afetivo e cognitivo, sendo a disciplina que possivelmente mais
pode contribuir na formação integralista do indivíduo. E mais, poucas
disciplinas podem e conseguem, com tamanha facilidade, abranger tantos
conteúdos e objetivos, numa só aula onde os alunos mais se sentem livres para
poderem se expressar, tomar decisões, experimentar situações, se tocarem e
darem vazão a seus sentimentos, ou seja, o movimento é a base da Educação
Física e o contato com as emoções, durante as atividades propostas na aula,
promove autoconhecimento e auxilia nos relacionamentos, tornando a criança mais
sociável; a metodologia lúdica é que tem se mostrado mais eficiente na promoção
do desenvolvimento holístico do individuo; é mais flexível às mudanças e aos
objetivos da aula.
A Educação Física
Escolar é uma disciplina inserida no contexto pedagógico e formativo da
cidadania, com a finalidade de explicar a corporeidade, o sentido da qualidade
de vida, através de um estilo de vida ativo, que ofereça algumas vivências
temáticas para que os alunos possam experimentar exercícios e práticas. Deve
dar oportunidades a todos os alunos para que desenvolvam suas potencialidades,
de forma democrática e não seletiva, visando seu aprimoramento como seres
humanos. Este conhecimento adquirido na escola deve depois ser transportado
para o dia-a-dia do cidadão, atendendo às necessidades de aptidão e saúde
física e mental. Daí decorre sua importância e relevância social, desde que
sempre encarada com seriedade e coerência.
Bibliografia
Site:
Livro:
·
Educação
Física no Ensino Superior - Educação Física na Escola - Implicações para a
prática pedagógica – 2ª edição / Coordenação: Irene Conceição Andrade Rangel e
Suyara Cristina Darido / Editora: Guanabara Koogan e Gen
0 Comments